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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O ELITISMO ANTE O PERSONALISMO DE CLASSE "ESPÍRITA"

Temos recebido com certa freqüência alguns emails contendo mensagens supostamente doutrinárias, essencialmente destrutivas, malsãs, apelativas, exaltando assuntos frívolos, escritos sob o guante de verborragias repetitivas, vulgares, agressivas. Num desses petardos virtuais, lemos entre outras jóias uma advertência aos que programam escalas de oradores, a fim de evitarem convidar para palestras “simplesinhas” a “Dra.” Sicrana, Diretora de uma associação de notáveis espíritas, .pois ela não tem perfil para falar nos eventos espíritas comuns (comuns!!??), onde ela tenha que falar, por exemplo, abordando temas do Evangelho Segundo o Espiritismo porque são temas comuns (isso mesmo que o missivista diz...comuns????), porque, na opinião da “Dra.” Sicrana, na cidade do escalador deve ter expositores simplesinhos para falar sobre estes temas “comunzinhos do Evangelho” e não vê porque chamar alguém de outro estado, abarrotados de “Drs.” e bamba (“especializada”) em outra área, para falar sobre os “reles” capítulo do Evangelho Segundo o Espiritismo. (pasmem!)

Cita, ainda, tal email que se o escalador pretende levar a Dra Fulana à sua cidade, tente aproveitá-la bem, criando algum evento monumental junto a uma Universidade (de preferência de renome internacional, por certo), onde ela possa verbalizar sua singela teoria “científica” sobre o Espiritismo para uma platéia acadêmica (de preferência com pós-doutorados), sobretudo mestres de tal ou qual área universitária gente da área de psicologia, biologia, química, medicina, física e outras assemelhadas. O mesmo deve ser feito em relação ao “Dr.” Fulano, e vários outros “especialistas espíritas”.

Esse assunto remeteu-nos ao diálogo que mantivemos com membro de uma associação “espirita” de notáveis, vejamos:

Sicrana: Prezado Sr. Jorge Hessen

Jorge Hessen: Prezada Dra Sicrana

Sicrana: Permita-me uma reflexão sobre conteúdo de sua entrevista ao C.E. Joana D´Arc.

Jorge Hessen: Certamente, minha irmã.

Sicrana: Eu nasci em berço espírita, em uma das menores cidades do Estado de ........ e convivi com as pessoas mais simples e economicamente desprovidas, que se possam imaginar. A gente estudava Karcec, fazia preces, participava das reuniões mediúnicas e tinha Jesus como Mestre.

Jorge Hessen: Toda Casa Espírita, minha irmã, tem que ter esse perfil, ou seja: Oração, Estudo e Caridade, tendo Jesus como Mestre e Modelo.

Sicrana: Na sequência dos tempos, vim estudar em (...) e fiquei por aqui, onde desenvolvi minha vida profissional, criei minha família e continuei com minhas atividades junto a essa nossa doutrina de libertação das consciências. Foi assim que acabei me ligando tb à Associação de (...). Tenho testemunhado o esforço hercúleo de seus integrantes, em divulgar um paradígma de humanização de todos os procedimentos de bem-estar, agregando profissionais (..........), enfim, de todas as modalidades correlatas. Lá eu tenho ouvido sempre que "o diploma do (profissional) espírita pertence a Jesus".

Jorge Hessen: A minha opinião particular sobre os profissionais da área da saúde, principalmente, é que todos, indistintamente, deveriam honrar o compromisso que assumiram, como humildes servidores do Cristo, pois são irmãos que vivenciam, na alma, a dor dos seus semelhantes; são os socorristas de plantão, literalmente falando. Devemos a eles o nosso maior respeito, sem dúvida alguma. Porém, não podemos entender “humanização” a portas fechadas, onde profissionais se reúnem para estabelecerem um padrão de comportamento humanitário, mas que, na verdade, ainda têm uma visão turva sobre o que realmente isso significa. O maior humanista que já tivemos, na área, foi o inesquecível Dr.Bezerra de Menezes. É nele que a classe médica deveria se inspirar. Por outro lado, quem já leu a coleção André Luiz sabe qual foi a sua surpresa ao adentrar no Mundo dos Espíritos. Preciso dizer mais, minha irmã?

Sicrana: O trabalho das associações......, por exemplo, em defesa da vida, contra o aborto intencional, inclusive contra o aborto do chamado (equivocadamente) de "anencéfalo", é inegável. Foi com a estrutura da associação........ que o Espiritismo conseguiu ser ouvido no Supremo Tribunal Federal, no final do ano passado, defendendo a vida do anencéfalo.

Jorge Hessen: Eu seria incoerente, minha irmã, se negasse esse esforço em defesa da vida. Perdoe-me, mas é muita presunção atribuir à associação........, a única e legítima representante legal do Espiritismo na Alta Corte a defender a vida do anencéfalo. Não somente os espíritas, mas, principalmente estes, arregimentaram-se e avançaram contra a descriminalização do aborto. Nesse dia, minha irmã, não houve distinção de classe, pois todos estavam irmanados em um só coração, em um só pensamento em nome do amor incondicional e do respeito à vida. Modestamente escrevi muito e publiquei sobre o específico e dei ampla divulgação à época. Foi minha humilde contribuição diretamente de Brasília, onde resido há 40 anos.

Sicrana: Em todos os eventos das associações ....., de que eu tenho participado, assisto sempre a demonstração do caráter verdadeiro da Doutrina Espírita, ou seja, de ciência, de filosofia e da moral de Jesus. Não se tem o objetivo de "elitização", nem de "atrair para si os holofotes da fama" ou de "divulgar o evangelho apenas às pessoas laureadas" (expressões que constam de sua entrevista). Pelo contrário, nas associações...... os profissionais se reunem em uma entidade de classe, para assumir a responsabilidade de tratar de assuntos específicos à sua formação, como aborto, transplante de órgãos, utilização de células-tronco embrionárias, depressão e obsessão, etc., sem perda de seu denominador comum, que é o fato de serem espíritas.

Jorge Hessen: O verdadeiro caráter da Doutrina Espírita, minha irmã, não se resume em “assistir a reuniões de classe” para tratar de assuntos específicos à sua formação, pois basta ser específico e ser entidade de classe, para assumir caráter “elitista” e, mesmo porque, o personalismo de classe caracteriza um comportamento egoísta e, sobretudo vaidoso, uma vez que se julgam cumprindo admirável missão, mas “a sete chaves”. Ser espírita exige mais, muito mais do que isso. Os exemplos Chico Xavier e Bezerra de Menezes respondem por mim.

Sicrana: Senhor Jorge, eu tenho estado lá e estou testemunhando o que digo. Portanto, é com tristeza que leio referências injustas e infundadas ao trabalho de companheiros idealistas que só merecem nosso respeito e consideração. Não vejo a menor diferença de atitude nesses companheiros, em comparação a dos trabalhadores do centro espírita de minha pequena cidade natal. A seara continua a ser a de Jesus e laureados ou não pela academia da Terra, a honra que nos cabe é a de servir na condição de aprendizes na escola da vida.

Sicrana: Com abraço fraterno

Jorge Hessen: Não duvido, minha irmã, do seu testemunho. Porém, eu vejo uma diferença imensa entre uma coisa e outra, pois ser idealista não significa ser ativista. O equilíbrio está em ser idealista e ativista sincero e humilde.

Concluindo: Associação é uma organização entre duas ou mais pessoas para a realização de um objetivo comum. Sendo assim, podemos finalizar que o associativismo, normalmente de voluntariado, usado como instrumento de satisfação das necessidades individuais humanas, pode ser facilmente banalizado e colocado à prova a sua credibilidade se, e somente se, for para privilegiarmos um determinado grupo ou classe no campo da religião ou mesmo da fé, propriamente dita. Eu entendo que a possibilidade de pessoas de uma mesma ideologia, de uma mesma formação acadêmica, de uma mesma classe social, criarem uma orientação à parte, mesmo dentro da mesma crença religiosa, é visível a intenção de manter relações sociais somente com seus iguais. Criar uma associação, onde se destaca somente aqueles da mesma “formação”, acho inviável, imoral e degradante – perdoe-me a franqueza - pois revela um sentido, totalmente, contrário a tudo aquilo que qualquer religião ensina.

Allan Kardec propõe que o Espiritismo é uma doutrina natural, isto é, que coloca o homem ou o espírito diretamente em relação com Deus, de forma igual perante o SENHOR. Portanto, qualquer formação fora dessa realidade é, simplesmente, demagogia e pretensionismo.

Não estou aqui para julgar ou criticar, mas, para contra-argumentar e dizer que o meu pensamento, sobre a criação de tais Associações, encontra-se patenteado na entrevista a que você se refere e nos artigos que escrevo, pois que essa iniciativa afasta, cada vez mais, a idéia de União Espírita, tão aguardada pelos Espíritos Superiores que nos transmitiram essa abençoada Doutrina, que é o Espiritismo.

Fraternalmente,

Jorge Hessen

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O QUE PENSAR DOS DIZEM QUE "JESUS É SOMENTE O EMERGIR DE UM ARQUÉTIPO PLASMADO NO INCONSCIENTE COLETIVO" ?

 Stephen Sawyer, desenhista que vive em Kentucky, EUA, autor das imagens do Cristo com peitoral tatuado, braços musculosos , recentemente publicadas na capa do jornal The New York Times, inventou o projeto Art4God para tentar aproximar os jovens do “cristianismo”. Sawyer acredita-se um legítimo pregador (!?...) do Messias de Nazaré. Através de livros, revistas e blogs, Stephen tem viajado os Estados Unidos divulgando a sua bizarra ideologia, retratando a figura máscula de Jesus igualando-O a um super-herói.
Embora os desenhos sejam absolutamente grotescos e chocantes, é muito difícil em uma sociedade aberta, democrática e plural como a nossa, evitar expressões como essas, ou opiniões e teses, tenham elas ou não caráter histórico, científico, religioso ou moral, público ou privado. Todavia, o Espiritismo preconiza e defende a liberdade de expressão responsável, ou seja, quando exercida de forma justa e respeitosa, de modo que não venha a agredir ou desmerecer o direito de crença do seu semelhante.
A partir do momento que Deus dotou de razão o homem e lhe conferiu o livre-arbítrio, permitiu dessa forma que o mesmo abrace o caminho que espera ser o mais acertado para ele, tornando-o responsável pelas suas preferências. Quem somos nós para impor a quem quer que seja a nossa vontade, ou aquilo que acreditamos ser o melhor? Todavia , quando lemos a matéria relativa à veiculação da imagem de Jesus, igualando-O aos chamados homens “sarados”, ficamos extremamente indignados, pois guardamos a certeza de que a memória e imagem do Mestre devem ser respeitadas e veneradas no alcance máximo da liberdade humana.
É bem verdade que os espíritas não idolatram nenhum mensageiro em pinturas, fotos, esculturas, etc., Mas, esse comportamento de Sawyer cremos ser uma violentação gratuita e inteiramente desnecessária como tantos outros desrespeitos já praticados sob a “proteção” da vilipendiada liberdade de expressão, que culmina atingindo o sentimento de todos aqueles que têm Jesus como exemplo de moral, caráter, bondade, amor, humildade.
No que tange à aparência de Jesus, sabe-se que atualmente não existe uma unanimidade de como ele era realmente. Mas, Públio Lentulos dizia que “Ele era belo de figura e atraia os olhares. Seu rosto inspirava amor e temor ao mesmo tempo. Seus cabelos eram compridos e louros, lisos até as orelhas, e das orelhas para baixo cresciam crespos anelados. Dividia-os ao meio uma risca e chegavam-lhes aos ombros segundo o costume da gente de Nazareth. As faces cobriam de leve rubor. O nariz era bem contornado, e a barba crescia, um pouco mais escura do que os cabelos, dividida em duas pontas. Seu olhar revelava sabedoria e candura. Tinha olhos azuis com reflexos de várias cores. Este homem amável ao conversar, tornava-se terrível ao fazer qualquer repreensão. Mas mesmo assim sentia-se Nele um sentimento de segurança e serenidade. Ninguém nunca o via rir.” (1)
“Muitos, no entanto, O tinham visto chorar. Era de estatura normal, corpo ereto, mãos e braços tão belos que era um prazer contemplá-los. Sua Voz era grave. Falava pouco. Era modesto. Era belo quanto um homem podia ser belo." (2) Como se observa há dois mil anos havia um Homem incomum, entre os milhões de habitantes terrestres... E Esse Homem singular veio tornar-se o centro da história da humanidade. Muito mais do que isso: Ele se tornou um marco para a história da humanidade, de tal modo que até o tempo histórico é contado tendo-O como referência.
Como se não bastasse, em meio à crescente proliferação de idéias esdrúxulas sobre o Cristo, há infelizmente no seio do movimento espírita os que desejam ver Jesus banido das hostes doutrinárias. São arautos caolhos que têm deturpado a legítima concepção espírita sobre o Meigo Rabi da Galiléia. São bonifrates das trevas que espalham as extravagantes idéias do tipo: "Jesus é somente o emergir de um arquétipo plasmado no inconsciente coletivo".
Nos seus devaneios, tais títeres atestam que, de “tudo quanto a civilização cristã reteve de Jesus, nesses dois milênios, muito mais há de mito.” Enxovalham nossas mentes com afirmativa: -"Nosso Jesus não é o mítico Governador do Planeta, aquele que vive, entre Anjos e Tronos, na bela ficção literária de Humberto de Campos" e, ainda, regurgitam outras pérolas frasais como: -"Nosso Jesus, inteiramente homem, não evoluiu em linha reta" e, mais ainda, vociferam: -"Jesus não criou nenhuma nova moral. Apenas interpretou, adequadamente, aquela que sempre esteve no coração do homem por todos os tempos e lugares.”! Que talento! Tratam, o mais supremo dos seres da criação como um "João ninguém".
Na Terra, onde se multiplicam as conquistas da inteligência (algumas resvalam e se enterram nas valas profundas das retóricas vazias) e fazem-se mais complexos os quadros do sentimento amarfanhado no materialismo, saibamos que Ele (Jesus) no campo da Humanidade [foi o único] orientador completo, irrepreensível e inquestionável, que renunciou à companhia dos anjos para viver e conviver com os homens.
Nos tempos áureos do Evangelho o apóstolo Pedro, mediunizado, definiu a transcendência de Jesus, revelando que Ele era "o Cristo, o Filho de Deus vivo" (3) . No século XIX o Espírito de Verdade atesta ser Ele "o Condutor e Modelo do Homem" (4). Para o célebre pedagogo e gênio de Lyon, o Cristo foi "Espírito superior da ordem mais elevada, Messias, Espírito Puro, Enviado de Deus e, finalmente, Médium de Deus."(5) Não há dúvidas que Jesus foi o Doutrinador Divino (6) e por excelência o "Médico Divino", segundo André Luiz. (7) Por sua vez, Emmanuel o denomina de "Diretor angélico do orbe e Síntese do amor divino". (8)
Para a maioria dos teólogos, Jesus é objeto de estudo, nas letras do Velho e do Novo Testamento, imprimindo novo rumo às interpretações de fé. Para os filósofos, Ele é o centro de polêmicas e cogitações infindáveis. Para nós espíritas, Jesus foi, é e será sempre a síntese da Ciência, da Filosofia e da Religião. "Tudo tem passado nestes dois mil anos, na Terra- mas a [Sua] Palavra brilha como um Sol sem ocaso, guiando as ovelhas tresmalhadas, os cordeiros perdidos do Rebanho de Israel à porta do aprisco, para restituí-los ao Bom Pastor". (9)
O Espiritismo vem colocar a Mensagem do Cristo na linguagem da razão, com explicações racionais, filosóficas e científicas, mas, vejamos bem, sem abandonar, sem deixar de lado o aspecto emocional que é colocado na sua expressão mais alta, tal como o pretendeu Jesus, ou seja o sentimento sublimado, demonstrando assim que o sentimento e a razão podem e devem caminhar pela mesma via, pois constituem as duas asas de libertação definitiva do ser humano.
Inobstante não ser a experiência humana uma estação de prazer, por isso, continuemos trabalhando no ministério do Cristo, recordando que, por servir aos outros, com humildade, sem violências e presunções, Ele foi tido por imprudente e rebelde, transgressor da lei e inimigo da população, sendo escolhido por essa mesma multidão para receber com a cruz a gloriosa coroa de espinhos, mas sob o influxo do bom ânimo Ele venceu o mundo!
O Cristo é o modelo de virtudes para todos os homens . E mais ainda. Jesus Cristo é incomparável em face da dedicação e a santidade que Ele dispensa à Humanidade. Nós, que ainda estamos mergulhados nos pântanos das questiúnculas teológicas , não temos parâmetros para avaliar a Sua magna importância para o Espiritismo, isto porque a Sua excelsitude se perde na escura bruma indevassável dos milênios. Dizemos mais: O Espiritismo sem Jesus pode alcançar as brilhantes expressões acadêmicas, mas não passará de atividade fadada a modificar-se ou desintegrar-se, como todas as conquistas superficiais da Terra. E o espírita cristão, que não cogitou da sua iluminação com o Evangelho do Mestre, pode ser virtuose da inteligência, Phd de qualquer coisa e filósofo, com as mais subidas aquisições científicas, mas estará sem bússola e sem norte no momento do “furacão” inevitável da dor moral.
Temos dito!
Jorge Hessen
Jorgehessen.net

Referências bibliográficas:

(1) Descrição tradicional feita pelo pró-consul Públios Lentulos
(2) idem
(3) Mt 13, 16-17.
(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 2001, pergunta 625
(5) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed. FEB, 1998, XV, item 2
(6) Xavier, Francisco Cândido. Os Mensageiros, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB, 2000, cap. 27)
(7) Xavier, Francisco Cândido. Missionário da Luz, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB 2003, cap. 18
(8) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB 2001, 283 e 327.
(9) SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e ensinos de Jesus, SP: ed. O Clarim- Matão, 1993, p. s/n

sábado, 26 de novembro de 2011

O Silêncio das Religiões


José Passini
passinijose@yahoo.com.br

Vivemos uma época de paradoxos: nunca se falou tanto em paz, mas nunca se ensinou tanto a guerra, a grosseria, a brutalidade, a violência. Como é possível criar uma sociedade pacífica, serena, nos modelos ensinados por Jesus, por Buda, por Francisco de Assis, por Ghandi, se desde a infância a criatura humana é submetida a um aprendizado de violência por meio audiovisual em cores no cinema e no lar? Observem-se os desenhos animados, plenos de exemplos de brutalidade, de destruição, de desrespeito às coisas e à vida, que são apresentados às crianças na televisão e na internet. As cenas se sucedem, mostrando seres disformes, monstruosos, criaturas que se combatem e se destroem de modo espetacular, arruinando tudo o que está ao seu redor, através de socos, pancadas, raios, explosões. Pergunta-se como ensinar à criança a paz, a tranquilidade, o respeito às coisas e às criaturas, se lhe são apresentados exemplos que a induzem exatamente ao contrário? O resultado dessa sementeira de brutalidade e desumanização é visto todos os dias nas estatísticas, que apresentam o crescente número de desavenças, de agressões e de mortes.

Como será possível a uma criança chegar à condição de adulto sem tornar-se consumidora de alcoólicos, se a televisão faz uma pregação insistente sobre o prazer de consumi-los, em todos os horários, dentro dos lares, usando como pano de fundo a euforia do futebol, a alegria do convívio humano? Nesse particular, evidencia-se o imenso poder dos produtores de bebidas alcoólicas, que não só conseguiram manter sua propaganda na mídia, como ganharam o espaço anteriormente usado pelos produtores de cigarros. A batalha contra o fumo foi vitoriosa, colocando o Brasil bem à frente de países mais desenvolvidos. Entretanto, o fumo é bem menos lesivo à sociedade do que o álcool. O dano produzido pelo fumo se restringe quase que só ao seu usuário, enquanto que o do álcool é capaz de destruir uma família inteira. Por que não regulamentar a propaganda, a venda e o uso de alcoólicos como se fez com o fumo? Mas apesar de o uso do álcool ser muito mais danoso que o do fumo, não há legislação que obrigue os fabricantes de bebidas alcoólicas colocarem, nos seus produtos, avisos quanto aos malefícios do seu uso, conforme é exigido nas embalagens de cigarros.

E, por falarmos em propaganda danosa, o que dizer quanto à licenciosidade sexual, o que dizer sobre as aulas de prostituição que entram nos lares, em todos os horários? As cenas de intimidade vividas por casais são apresentadas em novelas exibidas à tarde e à noite. Alguns programas são apresentados em horário mais avançado, dado o nível de sensualidade que apresentam, mas as suas chamadas, os seus anúncios são feitos em todos os momentos. Há programas que não apenas são atentatórios aos bons costumes, à moral, à ética, mas à própria dignidade humana, onde se evidencia não só a licenciosidade, mas também a ausência de pudor, de senso de privacidade, este, um dos atributos que distingue o ser humano do restante da criação. Há programas humorísticos que pregam abertamente a promiscuidade, o desrespeito, o deboche, o uso do palavrão. O aviltamento da mulher se tornou tão comum que é olhado pelo viés humorístico. Há flagrante apoio à mulher leviana, despudorada, em detrimento da nobre figura da mulher-esposa, da mulher-mãe.

Mas, afinal, vivemos num país que se diz cristão. Será que o Cristianismo é para ser vivenciado apenas no interior das comunidades religiosas? Será que se deveriam isolar do mundo aqueles que não desejam compactuar com esse estado de coisas, ou lutar para que o mundo se torne compatível com os ensinamentos do Cristo? Se aqueles que desejam manter uma vida equilibrada, respeitosa pretenderem afastar-se do convívio com a sociedade, como interpretariam a recomendação de Jesus, registrada por dois evangelistas: “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos (...)” (Mt, 10: 16) e “Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos.” (Lc, 10: 3)?

Diante da recomendação de Jesus, não devemos criar ilhas onde se viva cristãmente, mas devemos trabalhar no sentido de cristianizar todos os lugares.

Como nos sentiríamos se, subitamente, aparecesse Jesus ao nosso lado, quando nossas crianças estão vendo certos desenhos, ou estamos assistindo a algumas dessas novelas, desses filmes ou algum desses programas?

E o que estão fazendo as religiões no sentido de despertar as criaturas para uma mudança de atitude, a fim de que assumam sua real posição diante do Cristo? Será que o papel das religiões é levar seus fiéis a pensarem em Deus, ouvindo enternecidamente comentários sobre os ensinamentos de Jesus, somente no interior dos templos, em momentos sagrados? Mas Jesus nunca separou a vida em momentos sagrados e momentos profanos. De acordo com os Seus ensinos, os princípios éticos e morais devem permear todos os atos da vida, em todos os ambientes. Portanto, é premente a necessidade de se despertar o homem para o esforço de proceder de conformidade com esses ensinamentos, em todas as circunstâncias da vida, conforme Ele ensinou e exemplificou. Logo, as religiões devem esclarecer o homem no sentido de não esperar o Céu depois da morte, mas de construí-lo aqui, em todos os ambientes, principalmente dentro de si mesmo, desde agora.

E como estamos procedendo nós, espíritas, nesse cenário caótico em que vivemos? As casas espíritas estão promovendo reflexões sérias que nos levem a nos situarmos na vida como espíritos imortais temporariamente encarnados? Estamos tendo oportunidade de avaliação das propostas da televisão, do cinema, do teatro, da literatura ante nosso futuro no Mundo Espiritual? Lembremo-nos de que, se o Espiritismo não nos atemoriza com o Inferno, também não nos oferece um Céu conquistado sem esforço no Bem. A verdade é que também nós estamos um tanto acomodados diante do panorama atual, pois raras vozes se erguem para denunciar esse tremendo antagonismo entre o que nos oferece a mídia, e as diretrizes de conduta ensinadas no Evangelho.

Portanto, diante dessa ruína moral que se vê na atualidade, é de se perguntar onde estão as vozes dos condutores de almas, onde estão as vozes das religiões que silenciam diante de tanta ignomínia? Será que aguardam a volta de João Batista?




quinta-feira, 24 de novembro de 2011

COMO SE ENCONTRA O ATUAL CENÁRIO ESPÍRITA NA PÁTRIA DO EVANGELHO?


Lemos recentemente o primeiro aviso espiritual sobre a missão da Pátria do Evangelho, ditada em 1873 pelo Espírito Ismael! Sublinhamos na mensagem lida os seguintes trechos: “o Brasil tem a missão de cristianizar. É a Terra da Fraternidade. A Terra de Jesus. A Terra do Evangelho. Não foi por acaso que tomou o nome de Vera Cruz, de Santa Cruz. Na Era Nova que se aproxima, abrigará um povo diferente pelos costumes cristãos. Cumpre reconhecer em Jesus, o chefe espiritual [do Brasil]. A missão dos espíritas no País é divulgar o Evangelho, em espírito e verdade. Os que quiserem bem cumprir o dever, a que se obrigaram antes de nascer, deverão, pois, reunirem-se debaixo deste pálio trinitário: Deus, Jesus e Caridade. Onde estiver esta bandeira, aí estarei eu, Ismael.!” (1)
Após a leitura dessa histórica mensagem, deliberamos analisar o atual cenário espírita na Pátria do Evangelho. Propomos ao caríssimo leitor fazer conosco um ligeiro check-up do atual movimento espírita nas terras do “Cruzeiro do Sul”. Sem muito esforço de apreciação, identificaremos uma redução acentuada do número de militantes sérios e comprometidos com a Codificação Kardeciana. Lamentavelmente, assistimos irromper-se o espírito elitista junto às muitas instâncias doutrinárias; vemos crescer a volúpia da oficialização das cobranças de taxas para ingresso nos eventos ditos “espíritas”. Promovem-se insistentemente a espetacularização da oratória e do conhecimento doutrinário “decorado” através de congressos, simpósios, workshop, palestras ou conferências realizados quase sempre em lugares esplêndidos.
A Internet tende a democratizar a informação mundial e poderia ser o grande instrumento de divulgação dos princípios espíritas, porém o “olho grande” nos lucros através das vendas de livros psicografados caros (cuja renda deveria destinar-se a obras assistenciais), salvo raras exceções, estão sendo proibidos para “download” com a evocação do execrável argumento materialista dos tais “direitos autorais” (mas, os autores são os espíritos, ou não?). É urgente um basta aos especuladores ambiciosos, que continuam industrializando Jesus através do Espiritismo. Cremos que se o Chico Xavier tivesse plena noção de que os livros que doou seriam alvo de ganância financeira, ele não os doaria, com certeza! É necessária a abolição dessa nefasta corretagem doutrinária em que comerciantes avarentos transformam o Espiritismo em balcão de negócios inaceitáveis.
O Espiritismo, no aspecto meramente humano das suas atuais diretrizes, ostentando convênio de agrado ou de cessão com as infiltrações mundanas do materialismo, do ganho financeiro supostamente justificado pelo assistencialismo de superfície, não se tem diferenciado da competição entre as empresas comerciais que só visam ganhar mercado, clientes e muitos cifrões.
Emmanuel advertiu, entre outras coisas (como observaremos mais abaixo), que os diretores de centros espíritas agenciam muito mais assembléias para discutir modos de angariar dinheiro e haveres para o custeamento de projetos desnecessários, e às vezes até supérfluos, do que para instruir doutrinariamente os frequentadores da instituição. Por essas razões, é importante analisar equilibradamente o movimento espírita brasileiro de hoje.
O incomparável médium Chico Xavier advertiu há algumas décadas que a mensagem espírita não pode se distanciar do povo. É “preciso fugir da tendência à elitização no seio do movimento espírita. É necessário que os dirigentes espíritas, principalmente os ligados aos órgãos unificadores, compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar. É indispensável que estudemos a Doutrina Espírita junto às massas, que amemos todos os companheiros, sobretudo os espíritas mais humildes, social e intelectualmente falando, e das massas nos aproximarmos com real espírito de compreensão e fraternidade [isso não se consegue com os shows dos eventos pagos, protagonizados por alguns pregadores que comercializam as palestras que realizam]. Se não nos precavemos, daqui a pouco estaremos em nossas casas espíritas apenas falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos [que não abrem mão de manter o burlesco “Dr.” antes dos endeusados nomes e sobrenomes] ou intelectuais e confrades de posição social mais elevada. Mais do que justo evitarmos isso (repetiu várias vezes) a “elitização” no Espiritismo, isto é, a formação do “espírito de cúpula”, com evocação de infalibilidade, em nossas organizações.”(2)
Numa das entrevistas concedidas a Jarbas Leone Varanda, publicada no jornal uberabense, Chico exprobra mais uma vez: “a falta de maior aproximação com irmãos socialmente menos favorecidos, que equivale à ausência de amor, presente no excesso de rigorismo, de formalismo por parte daqueles que são responsáveis pelas nossas instituições; o médium mineiro reprova a preocupação excessiva com a parte material das instituições, com a manutenção, por exemplo, de sócios contribuintes ao invés de sócios ou companheiros ligados pelos laços do trabalho, da responsabilidade, da fraternidade legítima; é a preocupação com o patrimônio material ao invés do espiritual e doutrinário; é a preocupação de inverter o processo de maior difusão do Espiritismo fazendo-o partir de cima para baixo, da elite intelectualizada para as massas, exigindo-se dos companheiros em dificuldades materiais ou espirituais uma elevação ou um crescimento, sem apoio dos que foram chamados pela Doutrina Espírita a fim de ampará-los na formação gradativa.” (3)
O mestre lionês certifica que “quando as idéias espíritas forem aceitas pelas massas, os sábios se renderão à evidência”. (4) Não podemos permitir a “deturpação da mensagem dos Espíritos, como aconteceu com o Cristianismo legalizado por Constantino, em 313, e posteriormente oficializado como religião do Império romano por Teodósio, em 390. A Doutrina dos Espíritos veio para consertar o Cristianismo, todavia, na sua feição evangélica primitiva. Os líderes que se transviarem das legítimas mensagens espíritas cristãs sofrerão as severas sanções das Leis do Criador, em face da invigilância, pois com as Leis de Deus não se pode brincar.
Corroborando a tese de Humberto de Campo sobre a missão cristã do nosso país no contexto mundial, Emmanuel registra - “achamo-nos todos à frente do Brasil, nele contemplando a civilização cristã, em seu desdobramento profundo. Nele, os ensinamentos de Jesus encontram clima adequado à vivência precisa.”(5) “Embora nos reconheçamos necessitados da fé raciocinada com o discernimento da Doutrina Espírita, é forçoso observar que não é a queda dos símbolos religiosos aquilo de que mais carecemos para estabelecer a tranquilidade e a segurança entre as criaturas, mas sim a nova versão deles, porquanto sem a religião orientando a inteligência cairíamos todos nas trevas da irresponsabilidade, com o esforço de milênios volvendo , talvez, à estaca zero, do ponto de vista da organização material na vida do Planeta.” (6)
Culminamos nossos argumentos relembrando que se “o Brasil puder conservar-se na ordem e na dignidade, na Justiça e no devotamento ao progresso que lhe caracterizam os dirigentes, mantendo o trabalho e a fraternidade, a cultura e a compreensão de sempre, para resolver os problemas da comunidade e, com o devido respeito à personalidade humana e com o devido acatamento aos outros povos, decerto que cumprirá os seus altos destinos de pátria do Evangelho, na qual a Religião e a Ciência, enfim unidas, se farão as bases naturais da felicidade comum através da prática dos ensinamentos vivos de Jesus Cristo.” (7)
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net



Referências bibliográficas:
(“1) Mensagem recebida no Grupo Confúcio, 1873. O Grupo Confucio (02 agosto 1873) foi a 1ª Sociedade Espírita nascida com o objetivo de divulgar a Doutrina. Posteriormente mudou seu nome para Grupo Ismael. No Rio de Janeiro foi a primeira, mas no Brasil foi a segunda porque a 1ª Sociedade Espírita fundada no Brasil foi na cidade de Salvador, em 17 de Setembro de 1865 : Grupo Familiar do Espiritismo. (Grandes Espíritas do Brasil – Zeus Vantuil, pág 118)
(2) Xavier, Francisco Cândido. Encontros No Tempo, São Paulo: Editora Instituto de Difusão Espírita, 1979, 2ª edição,
(3) Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense: “Um encontro fraterno e uma Mensagem aos espíritas brasileiros”. Publicado no livro Encontro no Tempo, 2ª edição
(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro, Ed. FEB, 1973, Introdução
(5) Mensagem psicografa por Francisco Cândido Xavier, em Uberaba, MG, na tarde de 18/08/1971, para a reportagem da revista O Cruzeiro, do Rio de Janeiro, da qual – edição de 01/09/1971, pág. 25 – permanece aqui transcrita
(6) idem
(7) idem

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

DEUS, A MÃE E O FILHO



Margarida Azevedo
margaridamariaazevedo@gmail.com
Portugal
“E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.


E disse: Toma, agora, o teu filho, o teu único filho, Isaac, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto, sobre uma das montanhas, que eu te direi.
Mas o anjo do Senhor lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.
Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto, agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único.” (Gn 22: 1-2; 11-12)
Aprende-se através destes versículos que não basta dizer que se acredita em Deus, é preciso prová-lo. Porém, algumas provas parece que transcendem em muito o razoável.
Será que é preciso numa dimensão sacrificial o sacrifício, e nomeadamente da própria vida, para provar a fé? Que representa a vida em relação à fé? Precisará a fé da minimização vida, de a tornar insignificante?
Este cap. Gn 22 remete-nos para a dimensão trágica do amor e da fé, um dos binómios mais complexos da nossa existência. Com linguagens diferentes, objectivos e vivências diferentes, neste capítulo, incompatíveis e em conflito, remetem-nos para: Quem amo mais, Deus ou o meu filho? É esta a grande questão da reflexão que se segue.
Mas o texto vai ainda mais longe. Em sua magistral sabedoria, não nos permite colocar as seguintes questões: O que faço com a fé, na ausência do meu filho, que matei sem ripostar? Que alegria numa fé baseada no infanticídio do único filho, objecto do amor total? Como é que a fé anula o horror da morte do filho, uma ausência sem retorno? Não podemos colocar tais questões porque o infanticídio não chegou a acontecer e, como tal, a reflexão é vazia de conteúdo. As respostas a estas questões nunca as iremos ter porque o texto deixa-nos em suspenso...
Aquilo para que nos remete, entre outras coisas, é para a tomada de consciência de que podemos ser interceptados por Deus, pedindo-nos coisas dificílimas e por meio das quais somos confrontandos com as mais cruas questões existenciais, entre elas as provas da nossa fé.
Por outro lado, todos sabemos que as situações-limite nos conduzem a realidades que desencadeiam em nós estados de alma, avivam ou recalcam sentimentos conduzindo-nos a certezas de tal forma ilusórias que nos fazem crer que determinadas coisas estão na iminência de acontecer. São episódios que nos põem à prova mediante testes muito complexos, em que precisamos de pôr em causa ou reflectir sobre o que temos acreditado desde sempre, impondo-nos nervos de aço para tomarmos decisões ao arrepio do que seria esperável.
Através do capítulo em questão, é-nos exigido que saibamos viver com o desconhecido e o inesperável, aceitar a realidade de que viver é não saber como tudo vai acabar. Abraão não sabia se Deus o deixaria levar o teste até ao fim, nós, séculos mais tarde, também não. Quem sabe se apenas ficou adiado?! É dramático pensá-lo.
Mediante as nossas estruturas afectivas e a nossa relação com Deus, bem como o modo como estamos na fé, será que Deus não estará disposto, hoje, a pôr-nos à prova mediante idênticos processos? Esta questão, não já face ao que não aconteceu porque Deus não quis, mas em nome de um futuro que depende só de nós, faz algum sentido.
Matar o filho para provar a fé é o absurdo dos absurdos. Mas é para a análise de abismos como este que a Bíblia Hebraica nos remete: a dimensão trágica da nossa existência, os absurdos, as aporias, o ilógico.
O capítulo (Gn 22) alude indiscriminadamente a Deus e ao anjo como se de uma personagem única se tratasse, revelando duas presenças numa só. Nos v. 1-2 quem fala é Deus, enquanto nos v. 11-12 é o anjo. Porquê? Não poderemos assumir isso como uma fuga de Deus? Onde estava Deus aquando do holocausto? Era suposto que Deus estivesse também em 11-12. Por que não está?
Não poderemos entender isso como uma resposta do género: nos momentos cruciais, quando o mecanismo já está irreversivelmente em acção, somos entregues a nós mesmos, abandonados às nossas próprias decisões? A decisão é sempre complexa e isolada, e segundo o capítulo em epígrafe, nem Deus interfere.
Vejamos a mesma história pelo lado feminino, e coloquemos as seguintes questões: Porque é que a mãe, Sara, está ausente deste diálogo? E se Deus tivesse dirigido o mesmo pedido à mulher? E já agora, por que não o fez?

Parece que toda a história teria outro desenlace. É que uma mãe é um animal muito estranho. Atacar um filho é candidatar-se a observar até onde pode ir a ferocidade, ainda que representada na mais franzina das mulheres. Não há animal que lhe ganhe. O leão mais bravo não passa de gatinho manso quando comparado com uma mãe assanhada. É uma experiência que não aconselho a fazer.
Por outro lado, questões como justo e injusto, dignidade e indignidade, verdade e mentira não passam de binómios sem sentido, facilmente ultrapassáveis quando se trata de defender um filho. Por ele, a mãe pobre deixa de comer para que a ele não falte; faz qualquer coisa para o vestir e calçar, para que seja alguém na vida, vai ao fim do mundo, ultrapassa impossíveis, até faz o pino em cima de pregos.
Se Deus tivesse feito o mesmo pedido à mulher, e o autor do texto sabia-o muito bem, o desfecho teria sido o fracasso de Deus porque a experiência gorava. A mulher não teria ido ao monte para entregar o filho em holocausto. Menos ainda ser ela própria a matá-lo. Nunca, jamais. Deus não teria podido provar a importância da fé, e o amor incondicional pelo filho sairia vitorioso. O animal-mãe encara o filho como sendo o seu próprio anjo, o seu pequeno deus, donde viver é trabalhar para ele.
Abraão está sempre presente não por se tratar de um patriarca, ou por se crer, erroneamente, que na Bíblia a mulher é considerada inferior ao homem, a Bíblia está cheia de mulheres importantes, do Primeiro ao Segundo Testamentos. O facto é que há certos pedidos que não se podem fazer a uma mulher. Este é um deles.
Exigir que a mulher entre em conflito com o seu filho, ainda que em nome da fé ou de Deus, é melhor não exigir, pois a mãe prefere o inferno com o filho do que o céu sem ele.
A grandeza da vida humana é precisamente a dinâmica destes conflitos, os quais nem sempre terminam bem. Há um que é esmagado pelo outro. Para a mulher, crer em Deus é um caso arrumado, desde que não vá mexer com o seu sagrado pessoal afectivo. Ao longo da história das religiões, o feminino tem desempenhado um papel preponderante, todavia há que não esquecer de que há outra camada que se sobrepõe, uma outra forma de relação com o divino. A mulher tem como que um pacto de não agressão com ele porque, no que toca ao seu filho, estamos perante o seu próprio sagrado, o que para ela é intocável.
No entanto, o amor incondicional pelo filho não poderá ser uma linguagem da fé? Um dos grandes enigmas do mundo é o amor de mãe. É incondicional, desmesurado, cego, universal, atemporal, … E a fé não deveria ser assim? Lembremos que Francisco de Assis afirmou que gostaria de ver os homens comportarem-se como filhos de uma só mãe.
Em termos de interpretação judaica, a nossa leitura seguiria outros caminhos. Não no que diz respeito à mãe, mas em relação ao Homem. A grande novidade do Judaísmo é que Deus é Deus sem precisar de apoucar o próprio homem, e o homem é o homem sem precisar de se rebaixar perante Deus. São ambos importantes e grandes, donde não é necessário que um anule o outro.
Nesta ordem de grandezas, Deus e Homem encontram-se na História, e por isso o Messias tão esperado tem que ser um líder político, libertador de toda a opressão porque directamente ao serviço de Deus.
Se Deus tivesse levado a prova até ao fim, estaríamos em presença da escravização da fé, a opressão de Deus sobre o homem. Ao deixar viver Isaac, Deus confere a Abraão a alegria da fé. E a História é a trama dos vivos, não dos mortos.
Margarida Azevedo

Agradecimentos

O meu muito obrigada ao grupo ecuménico de estudos bíblicos, que tanto me tem ensinado, e de que tenho a honra de fazer parte há já onze anos.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

AUTOCOMBUSTÃO HUMANA ESPONTÂNEA? SERIA POSSÍVEL? EIS A QUESTÃO!



Michael Faherty, de 76 anos, desencarnou em sua casa em Galway no dia 22 de dezembro de 2010. O corpo, carbonizado, foi encontrado com a cabeça virada para a lareira. O médico legista Ciaran McLoughlin, de West Galway, Irlanda, afiançou que Faherty foi vítima de uma “autocombustão humana”. "O incêndio foi totalmente investigado e a sua conclusão é de que o fato se encaixa na categoria de ‘combustão humana espontânea’, para o qual não há uma explicação adequada"(1). McLoughlin explicou ser essa a primeira vez em 25 anos de carreira que deu um parecer de combustão espontânea.

Larry Arnold, um experto em autocombustão humana, sugere que o fenômeno resulta de uma nova partícula subatômica chamada 'pyroton' que, segundo ele, interage com as células para criar uma micro-explosão. Mas não existe nenhuma evidência científica provando a existência de tal partícula.

A primeira combustão humana espontânea conhecida foi divulgada pelo anatomista dinamarquês Thomas Bartholin, em 1663, quando descreveu como uma mulher em Paris "foi reduzida a cinzas e fumaça" enquanto dormia. O colchão de palha onde ela estava deitada não foi danificado pelo fogo. Em 1763, Jonas Dupont apresentou em Lyon uma tese de doutorado: De incendiis corporis humani sponraneis; ele foi o primeiro a tratar do assunto oficialmente.

No século XIX, Charles Dickens despertou grande interesse no assunto, usando o tema para “matar” um personagem de sua novela "A casa abandonada” ("Bleak House"). Krook (o personagem alcoólatra), compartilhava da crença comum nessa época de que a combustão humana espontânea era causada por quantidades excessivas de álcool no corpo.(2) Surgiram algumas críticas acusando Dickens de divulgar superstições, mas o escritor respondeu aos ataques citando suas fontes de pesquisa sobre autocombustão humana – especialmente o caso da Condessa Cornelia de Bandi, de Cesena, Itália, ocorrido em 1731 – e o de Nicole Millet.

A rigor, ninguém ainda desmentiu ou provou concreta e conclusivamente a combustão humana espontânea. Portanto, estamos diante de um fenômeno paranormal não mencionado na literatura consagrada pelas explicações espíritas e que tem desafiado a inteligência dos pesquisadores. A ocorrência é um dos mais complexos fenômenos estudados pela parapsicologia e, sem dúvida, dos mais difíceis de ser comprovado, e sobre o qual muitos cientistas preferem manter silêncio. A definição pode parecer um tanto vazia, mas a verdade é que pouco ou nada se sabe sobre o suposto fenômeno – como se inicia ou termina, ou mesmo por que ocorre.

O intrigante da questão é: os corpos físicos podem ser consumidos espontaneamente pelo fogo? Muitas pessoas acreditam que a autocombustão humana seja um evento possível, mas a maioria dos cientistas não está convencida, apesar das evidências pelas inúmeras imagens fotográficas existentes. Para alguns, a combustão espontânea ocorre quando uma pessoa rompe em chamas por causa de uma reação química interna aparentemente não provocada por uma fonte externa de calor (ignição). “Em dezembro de 1966, o corpo do Dr. J. Irving Bentley, de 92 anos, foi descoberto na Pensilvânia, ao lado do medidor de consumo de eletricidade de sua casa. Na realidade, apenas parte da perna dele e um pé, ainda com o chinelo, foram achados. O restante do seu corpo tinha se transformado em cinzas.” (3)

Como esclarecer que um homem pegou fogo – sem nenhuma origem aparente de faísca ou chama – queimando completamente o próprio corpo, sem espalhar as chamas para nenhum objeto próximo? O caso do Dr. Bentley e centenas de outros casos semelhantes ficaram conhecidos como eventos de "combustão humana espontânea" (Spontaneous Human Combustion – SHC). Embora ele e outras vítimas do fenômeno tenham sofrido combustão quase total, as redondezas de onde se encontravam, ou as próprias roupas, muitas vezes não sofriam dano algum.(4)

Certa vez a TV Globo mostrou um “senhor que dormiu dois dias sucessivos e ao acordar notou no seu corpo queimaduras espontâneas profundas e sua mão direita completamente carbonizada, a qual teve que ser amputada. Um médico e um cientista abordados a respeito desse fato também não souberam explicá-lo. Mas como é de praxe, batizaram o fenômeno: "Combustão espontânea do corpo humano".(5)

Allan Kardec elucida os fenômenos (anímicos) de efeitos físicos (ruídos, pancadas, lançamento de objetos, transportes, a pirogenia ou combustão espontânea [roupas, colchões, móveis], psicometria (percepção de fatos a partir de objetos) etc.(6) As manifestações físicas estiveram relacionadas ao próprio surgimento da Doutrina Espírita, no século XIX, quando o professor Rivail teve sua atenção despertada para as chamadas mesas girantes e passou a estudá-las conforme consigna O Livro dos Espíritos, na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita. Os fenômenos espíritas desse gênero, de modo geral as manifestações físicas espontâneas, objetivavam chamar a atenção de Kardec e convencê-lo da presença de uma força superior à do homem.(7) Todavia, ressalte-se que o mestre de Lyon nada investigou e nem os espíritos informaram sobre o fenômeno de mortes por autocombustão humana.

“Existe, no entanto, a faculdade, qual utilizava Daniel Dunglas Home, que produzia fenômenos de combustão espontânea, mas que não era autocombustão e que não o queimava. Em uma experiência memorável diante do Imperador Napoleão III, antes de Allan Kardec, no mês de abril de 1852, convidado às Tulherias por aquele, deu as maiores demonstrações de mediunidade, porque o Imperador gostava de prestidigitação (ilusionismo) e acreditava que os fenômenos produzidos por Daniel e por outros eram de ilusionismo, de malabarismo. Entre as manifestações notáveis que Daniel produziu naquela noite, uma foi tomar de uma folha de papel, atritá-la, atirando-a nas labaredas da lareira, dizendo: – "Não queime". – e a folha de papel permaneceu intacta. Ele afastou-se alguns metros, e ordenou: – "Pode queimar". – e ela ardeu. Constatamos que ele a havia impregnado de energia anti-combustiva e, ao dar-lhe a ordem, a energia desgastada, não isolou o papel.” (8)

Quais as causas dos fenômenos de efeitos físicos? Qual a sua origem e sua finalidade? São questões que passaram a ocupar o pensamento do professor lionês, que passou a estudá-los levando-o às pesquisas e ao trabalho de compilação e organização da Codificação Espírita, dando origem aos cinco livros que editou usando o criptônimo de Allan Kardec.

Pelo sim, pelo não, ousemos propor uma explicação plausível para o fenômeno peculiar que consome uma pessoa por uma chama que parece vir de seu próprio corpo e transformá-la em pouco mais que um monte de ossos enegrecidos e pó. Cremos ser um processo expiatório que alcançam alguns seres humanos que invariavelmente praticaram atos impiedosos no passado, quiçá nos medievos cenários inquisitoriais; pessoas essas que incineraram impiedosamente os hereges vivos nos troncos do ódio, razão pela qual e sob o látego da Lei de Ação de Reação carregam as matrizes que liberam a materialidade de tão dantesco fenômeno.

Espera-se que um dia o mistério possa ser mais bem esclarecido, pois a autocombustão de corpos representa um dos mais complexos e atemorizantes acontecimentos paranormais da história humana.

Jorge Hessen

http://jorgehessen.net

Referências bibliográficas:

(1) Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/09/110923_combustao_irlanda_fn.shtml acessado em 16/11/2011

(2) Entre as vítimas da tal “combustão humana espontânea”, consta uma proporção elevada de mulheres idosas, sedentárias, obesas e que bebiam muito. Mas a lista compreende também pessoas jovens, em boa saúde e que não bebiam, o que torna particularmente precária a explicação pela combustão do álcool e das gorduras do organismo. As listas das vítimas mostram, igualmente, uma proporção anormal de eclesiásticos.

(3) Disponível em http://teoriadaconspiracao.org/discussion/67/combustao-humana-espontanea-che/p1 acessado em 11/11/2011

(4) Disponível em http://teoriadaconspiracao.org/discussion/67/combustao-humana-espontanea-che/p1 acessado em 11/11/2011

(5) Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/artigos/correio-fraterno/boletim-2000-04.html acessado em 12/11/2011

(6) Há alguns anos, uma modesta residência da Grande São Paulo foi literalmente destruída em decorrência de uma série continuada de fenômenos de efeitos físicos: combustão espontânea de roupas, cobertores e colchões, vidros e telhas estilhaçados por objetos atirados ninguém sabia de onde, barulhos ensurdecedores que não deixavam ninguém descansar.

(7) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns , Rio de Janeiro: Ed FEB, 1999, item 85

(8) Entrevista de Divaldo Franco, disponível em http://grupoallankardec.blogspot.com/2011/11/combustao-espontanea-na-visao-espirita.html acessado em 11/11/11

domingo, 13 de novembro de 2011

O ESPIRITISMO À BEIRA DO ABISMO ?!


Margarida Azevedo
margaridamariaazevedo@gmail.com
Portugal

Todos os grupos religiosos, independentemente das dimensões em termos de fiéis ou do maior ou menor impacto social, primam pela construção de interditos e preceitos, normas, teologias que visam traçar caminhos que conduzam ao divino.
É o que justifica a crença na existência de mundo paralelo ao mundo físico, atingível por meio de fórmulas complexas, dizeres, sacralização de espaços, lugares e objectos. Esses materiais tornaram-se meios de transmissão de poderes mediante um uso diferente do do comum: o céu não é um espaço físico onde cintilam estrelas e giram planetas, mas o lugar misterioso onde moram os deuses com poderes infinitos; a Natureza não é a vastidão imensa da fauna e flora, mas o espaço sagrado que reflecte a vontade dos deuses.
Com o avanço da Ciência, o horizonte do religioso sofre profundas alterações ao deslocar o sagrado para o próprio homem. Inicia-se então uma era geradora de uma espécie de super-homem, todo-poderoso, que, com o seu pensamento, se impõe à Natureza, enfrenta-a, disputando com os próprios deuses poderes e honrarias, a ponto de se confundirem entre si. É disso exemplo a epopeia lusíada, brilhantemente cantada por Camões, em que os deuses parecem humanos e os humanos parecem deuses. Mas deixemos a Literatura.
Sem ter consciência do que essa tomada de posição implica, há quem não perceba que o endeusamento do homem é o seu próprio fracasso. Caindo a absolutização do divino, com o seu mundo distante e independente do mundo dos humanos, caiem crenças tais como uma rocha colocada de um modo específico deixa de ser meio de adoração, e o templo já não congrega a totalidade dos crentes. Porquê? Porque a Ciência mexeu com a fé, e os materiais do sagrado fazem agora parte uma Natureza laicisada. Mais, tornou ridículas muitas das suas manifestações, os seus conceitos e seus investimentos afectivos, o que em nada abona a favor do homem. Isto significa que, não tendo deixado para trás a noção de bons e maus deuses, a mesma passou para o homem, classificando como mau aquele que não pertence ao mesmo sistema de valores, logo aquele que não está na mesma sintonia em termos de fé.
Se por um lado desmorona-se todo o edifício e sistema de crenças assente no desconhecimento das leis da Física, Química e Biologia, libertando progressivamente o factor religioso da superstição, o que é uma mais-valia, por outro há todo um vastíssimo desconhecimento e consequente desvaloração do pensamento antigo por parte do homem moderno; houve um deslocar da crença e da fé para a Ciência. Acredita-se mais na descoberta da cura do cancro que na força da fé ou na eficácia da oração, não se percebendo que uma não implica a anulação da outra.
É preciso compreender que o avanço científico, responsável por novas e cada vez mais complexas problemáticas, não anula as questões mais antigas referentes ao campo religioso, à fé, ao investimento de crenças em supostos métodos e meios de manifestação do divino. Ele apenas acompanha os novos tempos, toma outro cariz, porém as questões de ontem estão tão presentes hoje como antigamente. Não se trata de anular os deuses, mas a superstição, pois que deuses, Espíritos, forças da Natureza, Energia, etc., é tudo a mesma coisa com nomes diferentes, tal como o Espiritismo o afirma ( vide perg. n.º 668 de O Livro dos Espíritos).
Porque há sofrimento, porque há ricos e pobres, porque morrem uns de fome e outros vivem na opulência, porque há deficientes, porque é que o mundo é algo organizado? O que é a fé? Por que sou crente? O que é a não crença? Por que existo? Quem sou? De onde venho? Para onde vou? Estas questões existenciais, terríveis, acrescente-se, são as mesmas desde que o mundo é mundo, desde que o pensamento religioso existe, e não conseguimos pensar o mundo e nós mesmos sem ele.
Vivemos a prisão da nossa crença. Por mais mutável que nos pareça, por mais que por seu intermédio nos modifiquemos, ela estará sempre lá. É uma condicionante da nossa acção valorativa, uma forma de olhar, um modo de viver. O mundo gira em torno e em função daquilo em que acreditamos, seja no que for e como for. Vivemos na sombra das nossas vivências interiores e à qual atribuímos e remetemos o que de bom e de mau nos acontece. E esta matéria não é o objecto da Ciência.
Ainda que fique provado que o Espírito existe, que a Matemática consiga defini-lo por meio de fórmulas, que a Tecnologia delimite com toda a precisão as suas dimensões, que a Biologia o identifique como uma forma de vida apenas diferente, o homem de não fé continuará a chamar-lhe outra coisa. Não podemos confundir a prova com a certeza da fé. Provar que existe o ar não é acreditar nele. As certezas da fé advêm de um fundo que não definimos, que é absolutamente inefável e que está dependente de programas vivenciais que escapam ao entendimento. Pela fé não descobrimos coisas novas, mas aprendemos a direccionar o nosso olhar mediante estruturas vivenciais interiores, que nos remetem para um tempo e uma vivência que nos parecem muito antigos. Viver na fé é revelar-se, evidenciando mundivivências que estão fora do nosso espaço e do nosso tempo. Somos portadores de uma multiplicidade de deuses, ritos, castigo e perdão.
Antigamente, o factor religioso era composto por um conjunto de preceitos que respondiam às necessidases do homem de então. Hoje já não é assim. O homem moderno e pos-moderno vive a angústia das suas descobertas. O que é natural. O que ignoramos não nos incomoda porque é um não existente. O incómodo vem directamente do que conhecemos e não sabemos o que fazer com ele. Saber como se fazem os bébés-proveta não é problema; em que situações, com que óvulos e com que espermatozóides, do casal ou de dadores, isso já é um problema.
A criação de leis que regulem as novas descobertas, quer queiramos aceitar quer não, estarão sempre dependentes de factores que em tudo se perdem na dimensão da fé, do modo como se está perante o divino, e de como se espera agradar-lhe. Surgiram, de facto, novas questões, mas o fundamento e o modo de solucioná-las passará sempre pelos mesmos condicionalismos: uma componente valorativa dependente do sagrado.
O Espiritismo, longe destas problemáticas, limita-se ao chavão das vidas pretéritas. Porque é que uma coisa é de tal modo, responde-se sempre por causa das encarnações anteriores. Desta forma, longe de ser uma hipótese explicativa e um meio de ajudar na solução do problema, assiste-se ao efeito contrário. Esta falsa teoria da reencarnação é geradora da angústia de que um problema pode estender-se a uma pluralidade de encarnações, nem podemos escapar-lhe porque nos persegue. Mais que libertadora, essa teoria é uma corrente aprisionadora do indivíduo ao seu passado, de que não se lembra, do qual não tem quaisquer certezas, mas que está lá, culpabilizador. Quanto ao perdão não existe, ficou adiado.
O esquecimento das vidas passadas significa viver a presente como uma novidade. Cada vida é um livro que se abre, totalmente desconhecido. Assim, julgando que combatem aquilo a que chamam fé irracional ou infundada, os falsos espíritas apenas substituem os materiais das antigas crenças, ou simplesmente de outras crenças, pelo dogma da reencarnação, pensando que dessa forma são mais evoluídos. Ora, o Espiritismo não inventou os Espíritos, a sua comunicação com a Terra, assim como não inventou a reencarnação. O Espiritismo cristianizou-os mediante uma codificação que pretende dar voz às máximas de Jesus, num mundo onde os próprios cristãos o esqueceram bem como à sua Doutrina.
Mais, o Espiritismo não pode nem deve negar as antigas formas de crença, o que seria uma profunda contradição, pois elas são o seu próprio fundamento. “É à mesma lembrança que se devem certas crenças relativas à doutrina espírita encontradas em todos os povos? - Esta doutrina é tão antiga quanto o próprio mundo. É por isso que a encontramos por toda a parte, e é esta uma prova da sua veracidade.” ( KARDEC, A., O Livro dos Espíritos, pp 128-129, perg, n.º221-a), e em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o referido autor diz com toda a clareza que “O Espiritismo se encontra por toda a parte, na antiguidade,e em todas as épocas da humanidade.” (p. 18).
A veracidade da Doutrina está mais que provada através da História e da Arqueologia, e podemos dizer que a Antiguidade, oriental e clássica, além de ser a história social e política dos povos, a sua arte, ciência e cultura, é, simultaneamente, a nossa História Espírita. É nesta arquê do Espiritismo que encontramos, de forma indiferenciada, Magia (lembremos os Reis Magos do Oriente, que previram o nascimento de Jesus), Religião, Astrologia, Matemática, Geometria, Magnetismo... é aqui que a Doutrina vai beber a sua identidade. “O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma infinidade de fenómenos sobre os quais a ignorância teceu muitas fábulas, em que os factos são exagerados pela imaginação. O conhecimento esclarecido dessas duas ciências, que se resumem numa só, mostrando a realidade das coisas e a sua verdeira causa, é o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de crença ridícula.” (KARDEC, A., idem, p. 243)
O que o Espiritismo codificado pretende fazer, entre outras coisas, é introduzir o homem noutra dimensão da fé, livre dos materiais que até agora têm funcionado como uma bengala: talismãs, representações figurativas de Entidades, fórmulas e códigos complexos, enfim, toda e qualquer manipulação mágica da Natureza. Como vimos na citação supramencionada, o Espiritismo ultrapássa-os. “ Em todos os tempos foram reputados sobrenaturais os fenómenos cuja causa não era conhecida, pois bem: o Espiritismo vem revelar uma nova lei, segundo a qual a conversação com o espírito de um morto é um fato tão natural, como o que se dá por intermédio da electricidade, entre dois indivíduos separados por uma distância de cem léguas; o mesmo acontece com os outros fenómenos espíritas.” (KARDEC,. A., O que é o Espiritismo, p. 75).
Porém, tomemos agora em consideração a seguinte pergunta: Os espíritas conseguiram superar o politeísmo dos Antigos e o contemporâneo? Vejamos o que a respeito nos ensina a Entidade interrogada:
“Os fenómenos espíritas, sendo produzidos desde todos os tempos e conhecidos desde as primeiras eras do mundo, não podem ter contribuído para a crença na pluralidade dos deuses?

_ Sem dúvida, porque aos homens, que chamavam deus a tudo o que era sobre-humano, os Espíritos pareciam deuses. E também por isso, quando um homem se distinguia entre os demais pelas suas acções, pelo seu génio ou por um poder oculto que o vulgo não podia compreender, faziam dele um deus e lhe rendiam culto após a morte.” (K., A., o.c., p.281, perg. n.º 668. Sublinhado do autor.).
Parte significativa dos espíritas ainda não superou os antigos deuses. Os fenómenos espíritas continuam a criar espanto tal como outrora. Apenas mudaram os tempos e, com eles, a sua apresentação. Será que alguém pode negar o culto e as romarias em torno da figura de F. C. Xavier, a que um número cada vez maior de “fiéis” rende homenagem? Alguém nega que o referido médium está a ser mais cultuado que Jesus, nalguns Centros? Alguém pode negar que pôr em causa certos conteúdos dos livros de Emmanuel é pôr a cabeça no cepo? Fazer referência a aspectos em que Kardec está ultrapassado não equivale a falar contra a Doutrina, sendo, quem o fizer, excomungado na fogueira da ignorância? Alguém pode negar o ambiente exclusivista e intolerante face à rejeição de certos trabalhos mediúnicos, por parte de alguns trabalhadores? Quem se atreve a dizer, numa mesa de trabalhos, que não aprecia o Nosso Lar, de F. C. Xavier, que rejeita passagens de O Livro dos Espíritos? Quem nega que os fenómenos mediúnicos, porque produzidos através de determinados médiuns ou tão somente por acontecerem dentro dos meios espíritas, são aceites sem contestação? Desafio quem quer que seja a provar que o que digo é falso.
Além disso, muitos espíritas não conseguiram sobrepor-se à crença em mézinhas, como é o caso de medicamentos que dizem vir do Astral, supostamente revelados e prescritos por médicos espirituais; ou “operações” feitas por autênticos curandeiros, um verdadeiro perigo para a saúde pública e brilhantemente condenado pelo próprio F. C. Xavier; continuam a creditar em seres com poderes especiais e, por isso, em contacto directo com o divino ou com quem o represente, movimentando milhões, uma ignomínia para os espíritas sérios, que se sentem incapazes de acabar com tais práticas, por mais que as desmascarem. O sobrenatural continua dentro da Doutrina, mal disfarçado perante o olhar clínico de trabalhadores sérios, onde os falsos remetem o que é o Espiritismo para segundo plano.
E o que é o Espiritismo? Eu diria a liberdade de pensar Deus em que “Os Espíritos, ensinando o dogma da pluralidade das existências corpóreas, renovam uma doutrina que nasceu nos primeiros tempos do mundo e que se conservou até os nossos dias, no pensamento íntimo de muitas pessoas. Apresentam-na, porém, de um ponto de vista mais racional, mais conforme com as leis progressivas da Natureza e mais em harmonia com a sabedoria do Criador, ao despojá-la de todos os acréscimos da superstição."(KARDEC, A., idem, p. 141). E é isto que não está percebido.
Ao ignorá-lo confundem codificação com negação. Ora, em parte alguma Kardec ou as Entidades negam as antigas formas de crença, apenas lhes dão continuidade de um ponto de vista mais racional. Na ilusão de que o mundo de hoje já está preparado para perceber o que os Antigos não eram capazes de compreender, não lhes passa pela cabeça que vivemos em torno dos textos da Antiguidade, a começar pelos Evangelhos, e que estamos muito longe de os pormos de lado. São disso exemplo o renascer das técnicas de meditação orientais, taoistas e budistas, as práticas do yôga, bem como os textos milenares que os fundamentam. É que o problema não são os textos, mas a vivência da fé. Isto significa que o acento tónico do problema não tem nada a ver com a antiguidade dos textos que, só porque são antigos têm que ser forçosamente rejeitados. Santa ignorância! Esses mesmos textos têm que ser lidos, hoje, desprovidos de todo e qualquer pensamento prisioneiro de ideologias. É aí que está a superação, no método analítico próprio de uma exegese histórico-crítica, e não acorrentado a príncipios dogmáticos e supersticiosos.
Por outras palavras, a ignorância não está do lado de quem os escreveu, que conseguiu transmitir os grandes problemas da Humanidade, percebê-los com notável clareza e singular inteligência, como é o caso da Bíblia Hebraica, dos aforismos budistas, tão em voga ultimamente, bem como da surpreendente admiração pelo conhecimento egípcio antigo. A ignorância é nossa, quando nos julgamos detentores das respostas, apoiados numa visão da Ciência, ela própria dogmatizada, e essa é grande obsessão dos nosso tempo. E até neste ponto a Doutrina é uma novidade, isto é, o conceito de ciência, segundo o Espiritismo não é um conceito dogmático: “ O Espiritismo repudia, nos limites do que lhe pertence, todo efeito maravilhoso, isto é, fora das leis da Natureza; (…) Ele amplia igualmente, o domínio da Ciência, e é nisto que ele próprio se torna uma ciência;” (KARDEC, A., o.c., p. 75).
Saber que o mundo está em expansão, que começou ou não com o Big Bang, pode ser uma grande victória da Ciência; desconhecer quem sou, porque estou aqui e porque existo continua e continuará por responder, porque quando tivermos respostas definitivas teremos chegado ao fim da História.
O que seria da Doutrina sem Sócrates ou Platão, a que o Evangelho Segundo o Espiritismo faz referência, sem Moisés, onde a referida obra afirma peremptoriamente “ Deus é único e Moisés é o espírito que Deus enviou com a missão de fazê-lo conhecer, não somente pelos hebreus, mas também pelos povos pagãos. O povo hebraico foi o instrumento de que Deus se serviu para fazer a sua revelação através de Moisés e dos Profetas, e as vicissitudes da vida desse povo foram feitasa para chocar os homens e arrancar-lhes dos olhos véu que lhes ocultava a divindade. Os mandamentos de Deus, dados por Moisés, trazem o germe da mais ampla moral cristã.” (p.46) ? O que seria da Codificação sem o próprio Jesus, quando o Kardec esclarece que “o Espiritismo e o Cristianismo ensinam a mesma coisa.” (idem, p.35)?
Não podemos deixar afundar esta doutrina só porque alguns querem fazer dela um mundo à parte, isolando-a das suas raízes históricas e filosóficas, das crenças que a fundamentam, fazendo comprometer o futuro para que está vocacionada. Espiritismo significa continuidade, humildade e amor por si próprio, pelo Outro e pelo Absoluto, tal como se ensina nos meios yogues. Uma doutrina não tem que dizer coisas diferentes, apenas dizer de forma diferente as coisas que todos dizem. É que o caminho para Deus tem que ser desbravado por todos, segundo a sua sensibilidade e o seu entendimento. Ou não será assim?


Bibliografia
Citada:

KARDEC, A., O Livro dos Espíritos, CEPC, Lisboa, 1984, p.281, perg. n.º 668.

O Evangelho Segundo o Espiritismo, CEPC, Lisboa, pp. 35 e 46.

O que é o Espiritismo, FEB, RJ, 1987

Consultada:

ELIADE, Mircea, O Mito do Eterno Retorno, Edições 70, Lisboa, 1993.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

UNIVERSIDADE E ESPIRITUALIDADE (Entre Teses das Ciências e a Fé Quotidiana)




LUIZ CARLOS FORMIGA
formigalcd@hotmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)


Para não perder oportunidades fazemos opções. “Indo eles de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa; E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.” Lucas 10: 35-42
Num Núcleo Espírita Universitário (NEU) onde há carência de tempo, qual a opção?
Ocupados com aulas, administração e pesquisas, estamos mais para Marta.
Produzir e/ou examinar resultados experimentais ou privilegiar valores morais, mais difíceis de serem sobrepujados?
“Creio no testemunho dos historiadores - porque não presenciei o que referem... Tenho de crer em quase todas as teses e hipóteses da ciência – porque ultrapassam os horizontes da minha capacidade de compreensão. Creio no testemunho dos historiadores - porque não presenciei o que referem... Creio na palavra dos químicos e físicos – porque admito que não se tenham enganado nem me queiram enganar... Creio em moléculas e átomos, em elétrons e prótons - que nunca vi...
Não te admires de que eu, formado em ciências naturais, creia piamente em tudo isto... Admira-te de que haja quem afirme só admitir o que compreende - depois de tantos atos de fé quotidiana. O que me espanta é que homens que vivem de atos de crença descreiam de Deus - por motivos científicos.
Cinge-me a fronte o laurel de doutor - sou acadêmico... Entretanto - não me iludo... Quase todo o humano saber - é crer... Nossa ciência - é fé... Creio na própria alma - esse mistério dentro do Eu. (1)
Discutir Espiritualidade na universidade não é tarefa fácil. Vamos evocar quem foi instrumento da vontade do Mestre, que tomou sobre si o “pesado encargo de coordenar e publicar os ensinamentos dados pelos Espíritos.” Para isso “foi necessária não pequena dose de energia e coragem moral para arrostar contra a ignorância de uns, contra a indiferença de outros, e, acima de tudo, contra a maldade daqueles a quem a doutrina revelada podia prejudicar.”
Kardec (2) sabia que “seus conselheiros na espiritualidade não o abandonariam e a eles devia, em grande parte, o ter força e vontade para arrostar com todas as campanhas que se lhe moveram.”
“Vós não me escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.” João 15: 16.
No NEU estudamos Francisco Cândido Xavier. (3) No livro Pão Nosso cita Paulo: "Cada um contribua, segundo propôs em seu coração; não com tristeza ou por necessidade, porque Deus ama o que dá com alegria." – Paulo II Coríntios, 9:7.
Emmanuel diz que “quando se divulgou a afirmativa de Paulo de que Deus ama o que dá com alegria, muita gente apenas lembrou a esmola material. Naturalmente, todos os gestos de amor entram em linha de conta no reconhecimento divino, mas devemos considerar que o verbo contribuir, na presente lição, aparece em todas a sua grandiosa excelsitude.”
Lembramos de Maria e Marta quando na psicografia diz que “sobrevindo o momento de repouso diuturno, cada coração pode interrogar a si próprio, quanto à qualidade de sua colaboração no serviço, nas palestras, nas relações afetivas, nessa ou naquela preocupação da vida comum”. Enfatiza, na carta de Paulo, a importância do trabalho realizado, não apenas como obrigação. “Mobilizemos nossos recursos com otimismo e não nos esqueçamos de que o Pai ama o filho que contribui com alegria.”
Kardec cita “Francisco Xavier, que sozinho e com humildade, conquistou mais almas para o Cristianismo do que todos os cruzados, com os seus aguerridos exércitos e as sua poderosas armadas.”
Aconselha-nos a orar e vigiar comportamentos que boicotam a obtenção de bons resultados na educação (mediúnica) e diz: “Não há na Terra quem tão limpo esteja dos maus assomos da vaidade e da irritabilidade, que receba sempre, a sangue frio, os golpes vibrados por quem saiba ferir aquelas duas fraquezas espirituais.”
Avisa-nos para tomar cuidado com a tentação de “atualizar” os livros da codificação. Incentiva-nos a buscar no campo especulativo aquilo que ele, enquanto investigador, não pode registrar e que ainda falta.
Kardec sabia “que esta parte experimental era também efêmera. Sendo boa para a conquista, não tinha qualidades de estabilidade e de conservação. Como fenômeno experimentado, entra na ordem das coisas concretas, e para estas coisas, o aperfeiçoamento é mais sensível, porque a natureza delas e mais precária. Uma obra experimental de grande atualidade e verdade hoje, daqui a dez anos será velha, se a não acompanhar, como parte integrante e auxiliar, a feição abstrata e ideal.”
Por outro lado, nos seus livros, “o que existe na parte referente a valores morais ainda não foi nem será facilmente sobrepujado. É que, neste campo, eles estão com a verdade, e a verdade, apresentada sob que aspecto for, é sempre a verdade. É tão nova hoje, como no tempo do Cristo, como no tempo dos profetas, como em qualquer tempo. O que tem de bom, há de ser bom sempre e não será destruído e substituído pelo tempo.”
Kardec faz opção pelo estudo dos valores éticos. O Evangelho Segundo o Espiritismo é o ensinamento moral do Cristo. No NEU escolhemos esta parte, embora nela seja difícil dar exemplo pessoal.
As matérias contidas nos evangelhos podem dividir-se em cinco partes: os atos comuns da vida do cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido objeto de controvérsias; a quinta, porém, conservou-se inatacável. (4,5)
A cada capítulo, Kardec cita o ensinamento de Jesus, a fonte de onde foi retirado e procura explicar os fatos à luz dos postulados espíritas, como a imortalidade da alma e a reencarnação. Desta forma os estudiosos poderão encontrar explicações lógicas e racionais de temas que, mantidos até hoje nas sombras dos "mistérios" ou "milagres", permanecem sem solução. Com a chave da reencarnação nos permitimos abrir a porta do entendimento das mensagens de Jesus como a "Estranha Moral".
"A melhor doutrina é aquela que satisfaz ao coração e à razão e que mais elementos possui para conduzir os homens ao bem".
Recentemente fizemos uma palestra, semelhante aos estudos que fazíamos no NEU, no G E Fabiano, que registrou em vídeo (6). Nela ficamos entre as teses e hipóteses das ciências biomédicas e a fé na cura verdadeira, quando internalizamos leis do princípio espiritual.
“Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual.”
No plano de ensino, Jesus usou parábolas como estratégia e lecionou com propriedade. Elas já eram conhecidas no Velho Testamento e nos livros sagrados do Oriente, mas Ele as imortalizou. São histórias simbólicas, comparativas, que embora utilizem reálias, encerram conteúdo moral que precisa ser buscado. O Mestre demonstrou como fazer através da parábola do semeador (Mateus, 13:18-23) e do Joio e do Trigo (Mateus, 13: 36-43).
Há vantagens. Por serem simbólicas, sofreram menos alterações ao longo do tempo, pelas manipulações e ou traduções.
Reálias são usadas pelo homem, no seu afã diário. Esses símbolos podem ser transferidos para qualquer época, daí sua eternidade. Mas, para compreendê-las em toda profundidade, deve-se lembrar da lição: "a letra mata, mas o espírito vivifica." (Paulo, II Coríntios, 3:6).
A avaliação permitiu-nos concluir que no NEU, Maria não agradou a Marta. No entanto, estamos ainda seguindo naquela direção. Outros temas também nos interessam, como referido anteriormente. (8, 9, 11).
No ensino acreditamos que o salto de qualidade será o da informação para a formação. Formação de uma nova consciência. Seremos um profissional ético, com consciência crítica, livre, criativa e responsável, capaz do diálogo.(10).

1. “De Alma Para Alma” – Huberto Rohden .

http://www.forumespirita.net/fe/auto-conhecimento/o-credo-da-ciencia/msg238455/?topicseen#msg238455

2. Do País da Luz - Pelo Espírito Allan Kardec em Portugal

http://entendendooespiritismo.blogspot.com/2010/01/do-pais-da-luz-pelo-espirito-allan.html

3. Por que Considero Inteligente, o Cândido, Francisco Xavier.

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/por-que-considero-inteligente.html

Contribuir. Pão Nosso. Ed.: FEB.

http://www.comunidadeespirita.com.br/livrosespiritas/PAO%20NOSSO/58.htm

4. Esclarecendo Dúvidas

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/esclarecendo-duvidas.html

5. Entrevista

http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/INDICE_ArtigosLCF.html

6. Grupo Espírita Fabiano

http://www.youtube.com/watch?v=qyzwrgns1lm

7. A Gênese, Cap. I, item 16)

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/ge/index.html

8. Universidade e Suicídio

http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/UNIVERSIDADE_E_SUICIDIO_LCF.html

9. Educação na Idade Dourada.

http://orebate-jorgehessen.blogspot.com/2011/10/educacao-na-idade-dourada.html

10. Ética, Sociedade e Terceiro Milênio

http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=10&texto=524

11. O Retrato de Bezerra. E a Aristocracia Intelecto-Moral

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/retrato-de-bezerra.html