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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Nosso Lar: um grande filme de ficção


A brilhante performance de Renato Prieto – Identidade do André Luiz – A cinematografia espírita e a cristã – Erros do roteiro – A grande derrapagem – Exploração comercial – Promessas milagrosas – Momentos de beleza transcendental – Chamamento pela emoção – Divaldo Pereira Franco – Nosso Lar é remake – Concepção filosófica da verdadeira colônia e principalmente do verdadeiro umbral

No rasto do grande sucesso alcançado pelos filmes nacionais Bezerra de Menezes – Diário de um Espírito e Chico Xavier, um grupo de empreendedores investiu cerca de 20 milhões de reais na roteirização de Nosso Lar, do André Luiz. Com adaptação e direção de Wagner de Assis, produção executiva de Luiz Augusto Queiroz e Elizabeth Marinho Dias, fotografia de Ueli Steiger, figurino de Luciana Buarque, música de Fhilip Glass, pela Orquestra Sinfônica Brasileira, distribuição da 20th Century Fox, o lançamento aconteceu no dia 3 de setembro de 2010, turbinado por eficiente marketing. Foi, desde o primeiro dia de exibição, sucesso colossal, tendo alcançado, até o final daquele mês, índice próximo dos 3.500 milhões de espectadores em todo o Brasil e um retorno de bilheteria recorde superior a 32 milhões de reais. A crítica fez as costumeiras restrições a esse tipo de roteiro, enquanto o público em geral vibrou e o público espírita se extasiou, em reação justificável, notadamente por conta da espetacular tecnologia. Houve também um rebuliço fantástico, diante das estatísticas medidas dia a dia. A euforia inundou os sentimentos, a emoção inturgesceu os corações e não faltaram entrevistas de nomes famosos, opiniões de gente modesta e de “doutores” em espiritismo, com desdobramentos ora importantes, próprios e ponderados, ora vexatórios e de cunho verdadeiramente desastroso para a seriedade do espiritismo.

Era meu propósito lançar o livro O Verdadeiro André Luiz ao mesmo tempo em que estivesse sendo exibido o filme. Não foi possível. Antecipo, aqui, pela internet, o tópico em que faço a crítica da versão levada às telas, a que fui assistir ontem.

Podemos dividir minha análise em dois planos: o filme como arte e o filme como intenção e objetivo.

O Renato Prieto – que esteve brilhante no papel central, coadjuvado por elenco de primeira linha –, ao ser convidado para protagonista, me telefonou e conversamos demoradamente. Ele queria, como se espera de qualquer ator compenetrado do seu mister, assimilar no máximo a personalidade do André Luiz, tanto na espiritualidade como na encarnação terrena. Laboratório, no jargão da classe artística. Passei-lhe, então, o perfil do Faustino Esposel, depois de lhe resumir as controvérsias em torno da identificação do espírito. Fez-me inúmeras perguntas e fui delineando a figura do neurologista na vida pública e em família.

Contudo, sempre me ficara uma nesga de dúvida sobre a abertura do ângulo de arbítrio do Prieto, não quanto à capacidade dramatúrgica de personificar minhas indicações, mas quanto ao grau de resistência que ele teria de reunir em face de naturais pressões. Não nos falamos mais até o momento em que redijo este texto. Mesmo antes de ver o filme, eu já percebera, pelo trailer, que a caracterização do personagem espelhando o Carlos Chagas acabara prevalecendo no entendimento do ator ou da direção. Outros detalhes, como o momento da queda, à mesa de refeição (enfarte?), completaram a montagem. Estava, pois, incorporada a hipótese dos chaguistas. Chegaram a me justificar que o Renato Prieto já havia vivido, no palco, o papel de André Luiz com aquela mesma caracterização e não conviria, de repente, alterar a imagem. Pode ser...

Não obstante, qualquer que seja a explicação, penso que ele tinha o direito de fazer o que fez, por imposição ou convencido talvez por argumentos que não os meus. Não me altero. Afinal, mesmo incorporando o Carlos Chagas, nem por isso a verdade dos fatos vai se alterar. André Luiz só não será Faustino Esposel se, numa conspiração das regras biográficas, Faustino Esposel deixar de ser Faustino Esposel. Estou certo de que, ao término da leitura de O Verdadeiro André Luiz, não sobrará dúvida para ninguém e, então, com ou sem o filme, a verdade prevalecerá para além de qualquer contradita. A verdade não vai mudar, mesmo diante do correto phisique de rôle da atuação do Renato Prieto.

A imprensa, em particular a respeitada revista Veja, identificou o protagonista como Carlos Chagas, evidentemente à conta de informação que foi passada ao jornalista, ou colhida de algum texto disponível. Não lhe cabia apurar nada, confiante na fonte ouvida e sem desconfiar de que o assunto é controvertido. Pena que essa fonte não estivesse interessada na verdade, ou a desconhecesse. Na controvérsia se insere, por exemplo, o argumento, tal o que cheguei a ler, de que o neurologista Faustino Esposel não é tão famoso. Acham, talvez, que ele não pode ser o autor espiritual de Nosso Lar devido à condição de presidente de time de futebol. A ortodoxia, ressanfonizando zombarias (como costumava dizer meu pai), deve achar essa relação inadequada à angelitude espiritual. Ignoram que a grandeza do espírito e sua ascensão não podem ser medidas pelo seu passado, do contrário, Paulo de Tarso não poderia ter sido Saulo de Tarso, Maria Madalena não poderia ter sido Maria a pecadora, Agostinho de Hipona não poderia ter sido Aurelius Augustinus. E em matéria de fama – outro ângulo de referência dos chaguistas – não se pode aquilatar, de forma alguma, quem foi mais famoso, se Esposel ou Chagas. Ambos tiveram sua glória e seu prestígio incontestáveis, até mesmo na esfera internacional.

Assim, fui assistir ao filme Nosso Lar sabendo, desde o trailer, que o Renato Prieto viveria o Carlos Chagas e não o Faustino Esposel. Ao mesmo tempo, dando plena razão ao competente produtor Oceano Vieira, acabei diante de um monumental trabalho cinematográfico. O Oceano é referência em termos de boa produção. Assina currículo gabaritado nesse campo profissional e sua opinião, para mim, vale considerável acerto.

Bem, aconteceu que a crítica não pensou no mesmo diapasão. A Veja enalteceu os recursos tecnológicos, enquanto deixava escapar comentários às vezes sarcásticos sobre os preceitos e os seguidores espíritas. O Globo, outro veículo de peso, apresentou o seu conhecido bonequinho dormindo a sono solto; talvez desdobrado e vagando pela espiritualidade à procura de elementos que o livrem dum eventual estágio no umbral. Detenho-me, por ora, nesses dois importantes veículos porque desejo apenas exemplificar e, não, fazer varredura de todas as manifestações havidas, por sinal, numerosas em todo o país.

Malgré tout, penso que nada há de errado nessas críticas. Sou espírita e jornalista profissional. Entendo meus colegas. Nenhum deles está engajado na campanha de exaltação da religião espírita. Foram assistir ao filme para comentar uma obra de arte. Por esse prisma, não se agradaram da temática, independente de crença. A meu aviso, sinceramente, gostei bastante do filme. Como arte, como arrojo de fantástica tecnologia. Mas, como meio apropriado de divulgação do espiritismo, isento de distorções graves, achei-o simplesmente grand raté; mais que isso, prejudicial e perigoso. Regra geral, me agrada a cinematografia cristã e a de viés espírita. Gostei sobremodo de Ghost (que parte da crítica desdenhou), de O Sexto Sentido, Em Algum Lugar do Passado, Os Outros, Campo dos Sonhos, O Segredo da Libélula, Amor Além da Vida, Minha Vida em Outra Vida, Chico Xavier (magnífico!). Entre os mais antigos, Os Inocentes e 2001 Uma Odisseia no Espaço (escrevi, no Reformador, crônicas sobre estes dois). Com roteiro genuinamente cristão: Jesus de Nazaré, de Zeffirelli, o melhor filme sobre Jesus (veio ocupar, na minha preferência, o lugar de O Rei dos Reis, versão de 1961, da Metro Goldwyn Mayer, a despeito do modelo tipicamente hollywoodiano), e mais Ben-Hur (também com o selo do glorioso império não de Roma, mas de Hollywood), Abelardo e Heloísa, Irmão Sol Irmão Lua, Galileu Galilei, Joanna d’Arc, de Luc Besson, na ótima interpretação de Milla Jocovich (a mais convincente criação da Pucelle d’Orléans), Lutero, O Conclave, A Paixão de Cristo (a despeito dos litros de ketchup derramados pelo Mel Gibson) e alguns outros. Quo Vadis não deu para aguentar. Foi canastrice demais. De acréscimo, surgiu uma enxurrada de filmecos sobre figuras bíblicas que são lixo puro. Já o nacional Bezerra de Menezes – Diário de Um Espírito foi muito ruim, valendo apenas a reconstituição de época e o esforço do excelente ator Carlos Vereza para salvar a presença do Bezerra metido num roteiro fracativo, de exclusiva pregação religiosa. Concedo ao menos que outros atores também estiveram bem. A Video Spirite oferece ótimas produções, selecionadas e recuperadas pelo Oceano Vieira, que tem realizado biografias e documentários preciosos sobre espiritismo.

Como jornalista profissional, convivi muitos anos em bastidores do universo artístico, onde, aliás, fiz inesquecíveis amizades. E sou filho de artista, neto de artista, sobrinho de artistas, bisneto de artista, sobrinho-bisneto de artista, primo de artista. Acho que deu para aprender alguma coisinha em matéria de arte cênica. Por isso, ouso comentar o filme Nosso Lar, na expectativa de encontrar algum leitor atencioso e benevolente.

Aprecio o bom cinema, de todos os gêneros. Assisto frequentemente aos filmes franceses programados pela TV5Monde (a cabo), de alta qualidade. Entendo, por sinal, que a Europa e até a Ásia e o Oriente Médio têm produzido filmes cult remarcáveis, muito melhores do que esses nitroglicerinados norte-americanos em que sobreleva a violência, a banalização do amor, o referendo glorioso ao anti-heroi escabroso.

Há diretores da minha preferência, como Jean-Luc Godard, Ingmar Bergman, Constantin Costa-Gavras, Federico Fellini, Francis Ford Copolla, Luís Buñuel, Franco Zeffirelli, Frank Capra, Alfred Hitchcock, Pedro Almodóvar, Quentin Tarantino, François Truffaut. Movimentos como o Neorrealismo Italiano, a Nouvelle Vague (feitas algumas restrições quanto ao alinhamento ético com o amoralismo) me merecem aplauso e recomendação. Em suma e reafirmando: gosto do bom cinema. E gosto de ver filme com roteiro espírita ou cristão (projetados, claro, fora de instituições espíritas). Portanto, Nosso Lar – pensei – com certeza me agradaria. E, de fato me agradou, embora bem mais como obra de arte e, ainda assim, com restrições ao estilo narrativo. Como mensagem espírita, achei-o completamente despropositado, mau para a divulgação correta do espiritismo. Eu jamais filmaria Nosso Lar com esse roteiro quadrado, se tivesse à minha disposição 20 milhões de reais e a competência especializada que não tenho. A não ser que estivesse interessado apenas em ganhar dinheiro. Com o pensamento direcionado para a adequada divulgação do espiritismo, jamais aplicaria 20 ou 2 milhões na obra de André Luiz. Mesmo que isso me custasse apenas 1 real e meu retorno chegasse aos 20 milhões. Teria optado, por exemplo, por uma adaptação de Há 2.000 Anos, Párias em Redenção, Paulo e Estêvão, Renúncia, Ressurreição e Vida, Dor Suprema, Os Diamantes Fatídicos, A Abadia dos Beneditinos. Qualquer destas obras, se bem adaptadas, penso que dariam formidáveis filmes e peças teatrais maravilhosas, ao gosto do público e sem riscos maiores à pureza da doutrina espírita.

Com fantásticos efeitos especiais, com belíssima composição musical, com esmeradas performances individuais, Nosso Lar tem tudo para ser marco na afirmação do cinema nacional. Renato Prieto esteve ótimo no papel. Fez jus ao difícil personagem. Conseguiu transmitir, em todas as situações, o drama, a dor, a surpresa, a decepção, a coragem, a redenção do André Luiz sem se desviar da individualidade daquele espírito que, como todo mundo, tem sua biografia espiritual que não pode ser modificada em passe de mágica. No gestual, na movimentação, nas alternâncias da inflexão da voz, no silêncio e na precisa criação de cada momento, o ator se superou. Para mim, esteve impecável. Paulo Goulart, Othon Bastos e Ana Rosa são monstros sagrados e exibiram a competência que fez deles os ícones que são. O restante do elenco, Clemente Viscaíno, Fernando Alves Pinto, Inez Viana, Rodrigo dos Santos, Rosanne Mulholland, Werner Schünemann, não comprometeu em nada. No entanto, quero destacar a perfeita performance de Rosanne Mulholland, no pequeno mas importante papel de Eloísa, com talento indiscutível. Emmanuel – bem interpretado por Werner Schünemann, como convém sem exageros e nenhum jeito de santinho – não aparece na obra do André Luiz, senão na apresentação do Prefácio. Mas sua presença no filme não foi indevida, porque de fato houve encontros do André Luiz e do médium Francisco Cândido Xavier com aquele mentor antes de ser começada a psicografia. Assim, a presença não fica apenas explicada, mas acrescentou um cunho bastante importante ao trabalho que André Luiz viria a desenvolver e que – sabemos todos – estaria sempre sob a égide daquele elevado espírito. (Por oportuno: já confessei que gostei muito do filme Chico Xavier, mas prefiro a performance deste Emmanuel de Nosso Lar do que aquele outro, tipificado por inconveniente aura pontifical.)

A narração em off não me agradou em nada. Aliás, é recurso que, em tese, pode comprometer a linguagem cinematográfica. De veio didático, ficou chato e anódino, pois seria perfeitamente dispensável, entrando no canal do áudio apenas para ensinar espiritismo. Poderão alegar que a obra Nosso Lar é de conteúdo muito complexo e de difícil tradução imagística. É. Mas já tivemos inteligentes roteiros de sucesso, como o de O Processo (de Kafka, autor tcheco das minhas preferências), O Pequeno Príncipe, Alice no País das Maravilhas, Um Violinista no Telhado, O Piano, A Festa de Babette, A Ponte de San Luis Rey, e outros mais. E, por favor, não suponham que esses títulos tenham alguma coisa a ver com o Cinema Novo, da década de 60, que, com poucas exceções, foi um blefe, pura enganação. Tolerem-me os pretensiosos intelectoides de plantão...

O público, cético ou religioso, quer ver arte, não intrusões doutrinárias que são bem mais do pendor dos evangélicos. A mensagem de qualquer doutrina só é palatável se introduzida sem a intenção de converter e de vender ideias que no fundo são compradas unicamente por plateias muito ingênuas. Além do que, no caso específico, não creio (simples avaliação minha) que o André Luiz houvesse estagiado no umbral nas circunstâncias tenebrosas que o filme retrata. Não há dúvida de que foram oito anos de muito sofrimento, mas não podemos esquecer que há níveis no umbral ajustados à natureza de cada caso. É absurdo comparar um espírito que abusou do álcool, do sexo, com um assassino cruel e impiedoso, embora ambos devam merecer misericórdia.

Bem, certo é que o filme Nosso Lar, com intenção proselitista, não vai sequer contribuir para alcançar o objetivo que os bem intencionados (porém mais afoitos) esperam, salvante raras exceções. Quem não aceita o espiritismo gargalhará e escreverá crônicas como as que lemos; e entre os espíritas também não faltarão as reprimendas daqueles que até hoje ainda não aceitam os cenários luisianos, ou aqueles outros, como eu, que aceitam firmemente os relatos, mas nunca nos termos em que os católicos e protestantes reencarnados nos meios espíritas os vêm aceitando, agora com o reforço desse filme. E é precisamente aqui que está a maior derrapagem.

Apresso-me honestamente em registrar que nenhum dos integrantes da equipe técnica e do cast tem culpa ou responsabilidade por qualquer dos grandes ou pequenos equívocos temáticos do filme. A rigor, estiveram todos bem, destacando-se – repito – a interpretação do Renato Prieto, correta e convincente, cuja escolha para o papel central foi merecida e acertada. E mesmo os menos participativos, nenhum deles comprometeu o trabalho. A questão é que o problema não está na equipe de atores e de técnicos, nem nas expressões de sofrimento que, realmente, acompanham o que lemos no original mediúnico. O problema está na concepção, na linguagem das imagens.

André Luiz não pode ser roteirizado dessa maneira. É preciso acompanhar a saga desse espírito dentro de outra concepção, com a visão excludente dos laivos de materialidade que está longe daquilo que pelas mãos de Francisco Cândido Xavier nos foi transmitido (com não menos dificuldade). André Luiz não é apenas uma história de dor, amor e redenção; André Luiz é para ser estudado, analisado em grande parte nos seus enfoques abstracionistas. A linguagem desse filme que aí está transmite, até para muitos espíritas, a existência de falsos modelos, copiados do catecismo católico e da reforma protestante, modelos que nunca ajudaram a humanidade em nada e só servirão para o aumento da descrença e do resfriamento da religiosidade. Produzir um filme sem cair nesse engano, isto é, sem deturpar princípios e, ao mesmo tempo, sem escorregar para a narrativa religiosa, é realmente muito difícil. Daí que filmar Nosso Lar teria sido melhor não arriscar. E não adianta levantar a ingênua suposição de que serve ao menos para despertar os indiferentes, os materialistas e para ampliar o censo espírita. Primo loco: quantidades nada valem para nós. E, amedrontados, atemorizados dessa maneira substancialmente deturpada, fica quase impossível, depois, consertar conceitos internalizados. Nosso Lar é remake. Já vimos outro filme semelhante, de longuíssima metragem (está em cartaz há séculos!), bem mais real e em estilo gótico. Custou à humanidade sessões de torturas físicas e morais, perseguições, sacrifícios e atrasos evolutivos. Nosso Lar será ainda mais desastroso quando for distribuído pelo mundo e se, de repente, por outros motivos que não a temática, vier a vencer algum prêmio internacional. Aí então nada salvará, por muitos mais séculos, a verdadeira noção científica, filosófica e religiosa da doutrina espírita codificada por Allan Kardec.

Antes mesmo da estreia, o filme já estava fazendo estragos nas intenções mais nobres. Misturando mercantilismo com promessas mirabolantes, completamente improváveis de se realizarem (senão nos casos mais excepcionais que poderiam ocorrer até mesmo em casa, em meio a uma prece sincera), os habituais fabricantes de ilusões bizarras apareceram com promessas de curas e desobsessões milagrosas para os que estivessem presentes durante as exibições. Eis a festança do milagre com entrada paga e bilheteria aberta ao público. Já tive ocasião de exprobrar esse deplorável chamamento, que surgiu seguido da inacreditável fantasia de que “o filme Nosso Lar não é um produto apenas de espíritas encarnados – que foram importantes instrumentos – mas sim, e principalmente um desejo da vontade divina,” Quanto destempero originário de um centro espírita e difundido por espíritas!

Patético e pegajoso. Tudo maquinado sem nenhum pudor numa propaganda mentirosa para atrair doentes que, certamente, superlotaram as salas de projeção. Enganosa romaria como as patrocinadas pelos administradores dos "lugares santos", que prometem milagres e salvação eterna.

No entanto – pasmem! – o esquema comercial não ficou apenas nisso; foi ainda mais corajoso e mais desavergonhado. Foram confeccionados e lançados à venda brindes variados, como camisetas coloridas, chaveirinhos e canetas com inscrições “Nosso Lar” e “Chico Xavier”. E nem ao menos foi iniciativa de oportunistas desconhecedores dos critérios espíritas sobre proselitismo e meios de propaganda. Dolorosamente a iniciativa é assinada por instituição que, como criteriosa formadora de opinião, a existência inteira verrumou esses recursos mercantilistas ou mesmo oferecidos como amostras grátis.

Não faltarão, é claro, os fãs descabelados de Kardec e Chico Xavier, que sairão por aí mimetizando a empolgação das torcidas organizadas, dos carnavalescos das escolas de samba ou dos marqueteiros políticos (folguedos que se justificam nos limites das suas áreas e dos seus propósitos). Vergonhosamente, o movimento espírita, que tanto se orgulha das indecentes maiúsculas que ostenta (ver meu opúsculo Maiúsculas em Movimento Minúsculo), chegou ao máximo da insensatez e só lhe resta fazer coro no cordão dos católicos e protestantes.

No entanto, ainda é tempo de reler as palavras do nosso Kardec Brasileiro sobre essa fanfarra, esse grande teatrão, que mais não reflete senão a folia de igrejeiros e simoníacos reencarnados nas hostes espíritas. Em 15 de agosto de 1896, Bezerra de Menezes assina e manda publicar, no Reformador, o contundente artigo “A Verdadeira propaganda” (reproduzido em outubro de 1954), em cujos dois últimos parágrafos ensina:

Pelo contrário, os que são trazidos como em folia, por milhares que sejam, virão crentes, pelo modo por que viram obrar os propagandistas, de que o espiritismo é meio de distração, senão de brincadeira, e esses milhares nem aproveitam para si, nem concorrem de leve para o triunfo da boa Lei.”

A propósito desse importante tema, o leitor deve se reportar também ao tópico 21 do cap. V do meu livro O Atalho, Publicações Lachâtre, RJ.

O pior corolário de Nosso Lar, todavia, é de preocupação muito mais grave. Falhou o roteiro por não conseguir costurar as imagens ao script do texto original (não da adaptação), que só conseguimos assimilar pelo estudo sério das obras espíritas, feito em casa ou nas instituições espíritas. Na estética da sétima arte, o espiritismo dispensará o tom pegureiro e exigirá muito cuidado para não cair no sermão didático. Assim como está, inclusive por exibir trabalho visualmente muito bem feito, não faltarão os que acabarão materializando de vez toda a vida espiritual na colônia Nosso Lar, no umbral e em tudo o mais (com aquele desenho da Heigorina Cunha, a distorção será inevitável), levando espíritas e não espíritas a conceber réplicas das velhas e perniciosas alegorias das religiões adeptas do concretismo.

Introduzo aqui uma explicação. No filme Amor Além da Vida, por exemplo, estrelado pelo ótimo Robin Williams, e que eu disse haver apreciado, aparecem imagens de um purgatório bastante materializado. Poderão acusar-me de incoerente. Ora, importa não confundir as alegorias católicas (universalmente desacreditadas) com imagens baseadas em obra espírita séria, tal a de André Luiz, cujas descrições não devem ser aceitas como realidades de igual natureza.

Insisto em afirmar que André Luiz, a colônia, vida espiritual, espíritos bons e espíritos maus são verdades indiscutíveis, mas que não podem ser concebidas nas mesmas formas e fôrmas da absurda materialização de Deus e de Satanás, do ceu e do inferno, universalizada séculos afora por culpa das religiões que Allan Kardec veio desmistificar. No fogareu dessa terrível distorção, o pior efeito estará no arrastão de adeptos para o espiritismo não pela razão livre e sem lavagem cerebral – como Kardec aspirou e exemplificou – mas pelo medo, pelo terror, ameaças que vão cevando a ambição das cúpulas pelo poder religioso. Em contraponto, o espiritismo espera uma adesão pelo amor desinteressado, pelo conhecimento sem pompa, nunca pela barganha, pela chantagem ou sequer pelo respeito mundano. No que concerne, recomendo a notável e oportuna mensagem de Vianna de Carvalho, “Terrorismo de natureza mediúnica”, ditada ao médium Divaldo Pereira Franco, em 7.12.2009, em Calpe, na Espanha, da qual copio o seguinte parágrafo:

“De maneira sistemática e contínua, vêm-se tornando comuns algumas pseudorrevelações alarmantes, substituindo as figuras mitológicas de Satanás, do Diabo, do Inferno, do Purgatório, por Dragões, Organizações demoníacas, regiões punitivas atemorizantes, em detrimento do amor e da misericórdia de Deus que vigem em toda parte.”

Produzir, provocar emoções pela leitura, pela oratória, pela imagem é absolutamente legítimo, como no caso de inúmeras obras mediúnicas, de filmes e peças históricas, como a própria vida de Jesus, como as conferências vibrantes de Divaldo Pereira Franco, ou mesmo um diálogo durante reunião mediúnica. É recurso correto e meio de chamamento, às vezes capaz de grandes conquistas, de abertura para eventual renovação espiritual. Mas só haverá legitimidade se focado em história verdadeira, como a de Jesus e de outras figuras exemplares. Até em narrativa de ficção, desde que não contrarie a lógica da vida real, do fato verdadeiro. Diferentemente é valer-se do emocional tendo como enfoque, como mote, a mentira e a falsidade, induzindo à construção de bases conceituais erradas, prejudiciais à formação do conhecimento e do amor pelo amor. Nada valem resultados obtidos em cima do interesse, do medo, da falsificada noção do futuro, do eu próprio, da Verdade e de Deus. Pescar almas nos oceanos das marés da ignorância e do mal tem de ser tentado com as redes da sinceridade e da verdade.

É vazio e anacrônico o argumento de que há pessoas que não estão preparadas, e que ainda precisam da materialidade das verdades subjetivas para despertar e se convencer. Cuidado! Esse argumento faz parte do mesmo pacote histórico usado pelos que deturparam e desviaram o cristianismo. De justificativa em justificativa, daqui a pouco mais estaremos voltando a Adão e Eva, à cegonha, ao Papai Noel. Praticamente já chegamos à materialidade do inferno. Agora, falta muito pouco. Já existe a escolástica espírita, na forma assustadora de ESDE/EADE. Já há hierarquias sacerdotais disfarçadas, já há paróquias jurisdicionais, já há venda de brindes, de santinhos, de bugigangas, fetiches e amuletos, já há negócios e até jogo de azar dentro das instituições espíritas (ostensivos ou tácitos), já há poderosa estruturação religiosa, já há o “silêncio obsequioso” em que ninguém contesta nada, já há, enfim, tudo o que os espíritas condenamos vida afora e que hoje faz a festa do atalho vida adentro.

Repare-se que a Igreja católica e o protestantismo estão há bastante tempo silenciosos, adormecidos em relação ao espiritismo, como que indiferentes ao seu espraiamento. Mas acompanham de longe, pois que entre eles não existe ninguém tolo ou conformado. É muito consolador achar que estão calados porque cada vez mais se convencem das verdades espíritas. Ora, esse convencimento não é de agora; sempre o tiveram. Certo é que atualmente estão silenciosos porque não precisam mais atacar para conseguir o que querem. Regozijam-se, intimamente, apenas observando o atalho em que o atual movimento espírita se atolou. Acompanham e sorriem sinistra e sorrateiramente. Esperam apenas o último momento do processo em curso. Quando tudo se igualar por baixo e não houver mais nenhuma diferença entre catolicismo e espiritismo, virá o golpe mortal. Não me achem exagerado na visão do que aí está nem que avinagro demais a crítica. Jesus não buscou palavras menos ácidas quando apontou a hipocrisia dos fariseus e nem a simonia dos vendilhões do Templo. E aqueles que lograrem acordar a tempo e ousarem reagir, serão simplesmente esmagados pelo sistema e só restará o grito agudo das lágrimas: Volta, Kardec! Volta, Kardec!

Não acho que o Wagner de Assis seja incompetente. Deu mostra de que, se quisesse, teria produzido um roteiro totalmente à altura da obra de André Luiz. Exemplificou isso na cena quase final, quando André Luiz regressa ao lar terreno e vai viver sua grande decepção diante do quadro doméstico que encontra, seguida da reflexão, da análise introspectiva de seu novo papel e de benfeitor da ex-mulher e do seu substituto no leito do antigo lar. Não foi preciso uma única palavra em off. Em minutos iluminados pela alta inspiração e pela primorosa atuação artística, com cortes precisos, edição perfeita, criação ideal do clima de expectativa e da lenta transformação interpretativa espelhada pelo Renato Prieto (esteve ótimo naquele take) assistimos ao clímax do filme. Tudo ficou irretocável, sem voz em off, o que mostra que, se quisesse, Wagner de Assis teria posto de lado o tom do sermão em todos os outros momentos do filme. Faltou alguém que, conhecendo bem André Luiz, a sua obra e o espiritismo, lhe indicasse o que poderia ser construído sem abalar o edifício doutrinário erguido por Allan Kardec e sem deixar de produzir boa obra de arte.

Aliás, naquele cenário de raiva e de posterior conscientização, conseguimos observar também como o umbral que predomina no início do filme poderia ter sido reduzido à sua verdadeira concepção. Enraivecido, machucado, André Luiz se deixa levar, de repente, pela postura do passado antes de sua transformação na colônia. Então, “regressa” ao umbral. Revive sua tragédia anterior e se dá conta do erro que estava cometendo. Rapidamente retorna à realidade e se dispõe à prática da caridade e do amor que já havia conquistado. Entende a situação. Recorda lições dos mentores da colônia, cai em si e se dispõe a socorrer o novo marido da mulher amada. O rápido retorno ao umbral é a senha para que ele e o espectador entendessem que, na doutrina espírita, não existe purgatório como o da Igreja católica e que o umbral está dentro de cada um de nós. Penso que não ficou evidente se foi uma reconstituição ou apenas uma lembrança ruim. Assim, podemos concluir que todo o início do filme com seus cenários dantescos e outros quadros na colônia não foram adequadamente concebidos. Insisto em que, com certeza, faltou aos cineastas uma assessoria competente de espíritas estudiosos para deixar claro o entendimento doutrinário em questão tão importante. Ou aconteceu essa assessoria, mas não de gente tão estudiosa e sim de pseudoestudiosos que, no fundo, pensam e querem mesmo que o espiritismo seja uma colagem das aberrações do catolicismo. No filme, aquele flashback de André Luiz enquanto visita o lar terreno não deveria ser apenas mnemônico, mas de reconstrução efetiva de uma realidade interior.

Aplaudo toda a tomada. A filha, já crescida, ao piano e com a presença do pai em plano espiritual é de beleza transcendental. É verdade que esse momento não aparece no original e é anacrológico, mas valeu tamanha imaginação do roteirista. O filme mostra ainda outros momentos de situações de grande emoção. Claro que há senões, como, por exemplo, a chegada dos desencarnados na guerra mundial então em curso. Judeus vítimas do Holocausto, com a estrela de Davi no peito, não deixam de ser judeus e dificilmente aportariam à colônia sem algum natural tumulto mental, dado o cenário que não previram no estudo do Torah e do Talmud. Salvo aqueles que eventualmente houvessem conhecido a Cabala. E as primeiras palavras com que são recepcionados refletem alegria e muito carinho, mas totalmente inviáveis. Não era hora para mais um sermão. De qualquer forma, ao lado do reencontro do André Luiz com a mãe, temos na história os dois momentos de maior emoção, esplendidamente filmados. Ao mesmo tempo, foram eliminados alguns fatos importantes da vida do André Luiz na terra e feitos alguns ajustes de adequação temporal. Porém, nada de grave prejuízo, embora o espectador, que não leu o livro, possa se interrogar como pode bater no umbral alguém que apenas gostava de beber uma cervejinha.

Retomando o aspecto desastroso dos efeitos do filme sobre o público espírita e não espírita no que concerne à materialidade dos planos de vida na colônia, no umbral (e nas trevas, que não foram mostradas), faço, para encerrar, breve incursão pela filosofia. George Berkeley, filósofo inteligente, prisioneiro embora da dogmática católica, arregimentou bom lastro dialético na tentativa de conter a expansão do materialismo, tonificado ao ensejo histórico do extremado racionalismo dos enciclopedistas. Erguendo a clava contra o radical sensualismo de John Locke, defensor de que todo conhecimento provinha das sensações e de que o espírito não existia, Berkeley conclui que, seguido este raciocínio, a matéria não passaria de um conjunto de sensações e que, consequentemente, ela, a matéria é que não existia de fato. Exemplifica com a alimentação humana, uma combinação da visão, do olfato e do tato, causando depois as outras sensações do prazer, da satisfação e do calor interno. Todo o processo, porém – ressalta –, é originário do espírito, único verdadeiramente existente. A dedução, que obviamente extrapola, é de que a matéria é puro subjetivismo e não existe exteriormente como algo verdadeiro. Era a consagração do espírito imortal e a negação suprema da matéria.

David Hume, materialista ainda mais ferrenho que Lock, entra no debate e procura provar que, a vigorarem a posição de Lock e a contraposição de Berkeley, nesse caso seria inevitável concluir que nem a matéria e nem o espírito existiriam, já que este seria também fruto das sensações. Eis a negação de tudo. Foi preciso surgir o genial Immanuel Kant para colocar ordem na dialética e oferecer a solução precisa, ideal, notadamente com a construção de sua notabilíssima teoria do conhecimento. Demonstrou que nenhum dos dois tinha razão e que todo conhecimento verdadeiro existe a priori da experiência, tal o exposto em A Crítica da Razão Pura. Kant salva a matéria e garante a existência do espírito. Suas ideias se aproximam muito de alguns princípios do espiritismo, conforme procurei evidenciar em meu livro Deus é o Absurdo. Acho Kant o maior de todos os filósofos.

De qualquer forma, a concepção de Berkeley, conquanto exorbitasse, acena para interessante probabilidade, a da inexistência da matéria. É não menos interessante que, no campo da ciência moderna, há, no momento, ao lado da teoria das cordas, a concepção do Princípio Antrópico, que nos fala de universos criados a partir do avanço das nossas observações; não porque já estivessem onde possam estar, mas porque vão de fato se criando à medida que vão sendo observados. Sem o observador, não existem. Loucura? Não, apenas o raciocínio nosso que vai abstraindo mais e mais e criando uma realidade concreta. Teoria perturbadora, que se alinha entre a ciência e a filosofia. Não obstante, não poderia ser diferente o inteligentíssimo efeito da obra de Deus. O pensamento domina nossos universos exterior e interior, e o pensamento de Deus domina o Todo.

Em sua notável série, André Luiz não teria como escapar da mesma observação e, então, procura nos transmitir – aqui já bastante explicado e repetido – o que possa se adequar à nossa linguagem e possa ser compreendido pelos nossos sentidos tridimensionais, limitados pela queda de nossos erros advindos do orgulho, do egoísmo e do ateismo.

É assim que ninguém tira ninguém do umbral. Simplesmente porque o umbral não é um local exterior, mas que está dentro de nós. Somente nós podemos descobrir a saída, quando nós o desejarmos sinceramente. Espíritos amigos, benfeitores, mesmo Jesus podem abrir a porta, mas a saída é opção nossa. Por outro lado, estando, pois, dentro de nós, poder-se-ia indagar onde nós estamos com esse umbral dentro de nós. Essa indagação é descabida. Não existe “onde” na abstração do tudo. Onde só existe no nosso universo a três dimensões. Ora, hoje, a própria ciência, tanto materialista como espiritualista, concorda que o espaço-tempo einsteiniano possui 10 a 11 dimensões. O espírito, com ou sem umbral interior, em seu plano de existência, sem se afastar do universo conhecido, estará na dimensão em cuja faixa de vibração se colocar. Atenção. Abstração nada tem a ver com irreal, com simbolismo, que só pode ser concebida pelo pensamento. Como no argumento ontológico anselmiano sobre Deus, é uma verdade abstrata que existe no pensamento e na realidade. Não falo, portanto, de abstração do fenômeno (aqui em sentido rigorosamente metafísico, em oposição a numeno), mas do processamento a priori da percepção, da razão e do juízo do espírito imortal na inserção da Lógica Transcendental. E nada disso invalida a revelação de que nosso mundo material é um reflexo, uma cópia do mundo espiritual. Claro que é. Reconstruímos, aqui, como cocriadores, primeiro no pensamento e, depois, pelo trabalho material, as construções ontológicas da espiritualidade que, como ensinam Kardec e Roustaing, a tudo precede e preexiste a tudo.

Enfim, do ponto de vista exclusivamente doutrinário, qual o lado menos nocivo desse filme? Claro que existiu. Valeu, sim, como algum despertamento para a crença na imortalidade e na vantagem de seguir o caminho do bem. Mas, para isso, não precisava arrastar o espiritismo em mais uma equivocada jogada de propaganda, cujo target visou o aumento das estatísticas, em detrimento das verdades legadas por Allan Kardec.

Ressalto, em complemento, que nada do que expus diverge das definições de espírito e de matéria e das realidades espirituais conceituadas em O Livro dos Espíritos. Mas aqui não dá para estender o estudo. Não é o caso de ampliarmos ainda mais essa maravilhosa visão filosófica que deparamos nos postulados da revelação espírita, magistralmente codificada pela genialidade do missionário Allan Kardec. Para quem consegue perceber, é claro.

Resumo nestes dois últimos parágrafos o pensamento até aqui desenvolvido:

Os dirigentes, as lideranças do movimento espírita exageraram na empolgação pelo filme Nosso Lar porque, para eles, uma eventual convicção generalizada do público espírita e do público que venha a ser espírita significará ótimo resultado, pois servirá de poderosa arma de ameaça e de dominação das consciências. Foram investidos 20 milhões no projeto. O custo-benefício é altamente compensador para os que objetivam o poder e o domínio.

A revista Veja e o jornal O Globo tacharam Nosso Lar de obra de ficção porque, sem entender de espiritismo, não acreditam no espiritismo. Eu classifico o filme de ficção porque sou espírita, entendo um pouco de espiritismo e sou estudioso da extraordinária obra de André Luiz. Desde muitas décadas defendo e explico que a obra ditada por André Luiz ao médium Francisco Cândido Xavier não tem absolutamente nada de ficção.

LUCIANO DOS ANJOS

Rio, 10.10.2010

terça-feira, 26 de outubro de 2010

MILAGRE?... FATALIDADE?... ACASO?...LIVRE ARBÍTRIO?...ALGUNS ARGUMENTOS ESPÍRITAS



Thomas Magill, um americano de 22 anos, sofreu uma queda do 39º andar de um prédio em Manhattan, Nova York. Ele caiu sobre um carro estacionado na rua, seu corpo atravessou o vidro traseiro e se espatifou no banco de couro do Dodge Charger. Magill caiu, mais ou menos, a uma velocidade de 160 quilômetros por hora e sobreviveu.
Milagre?... Fatalidade?... Acaso?...Acidente?...
Há muitos fenômenos naturais que desafiam a razão humana e permanecerão na dimensão do incognoscível no círculo da ciência tradicional por um bom tempo. No episódio Magill, será que houve uma interseção do Plano Espiritual, ou seja, teriam os Espíritos neutralizado os efeitos da Lei da Gravidade e por conseqüência diminuído a extensão do impacto sobre o carro? Por que em vários outros fatos semelhantes não há esse tipo de suposta intervenção espiritual?
Acaso é uma palavra vazia de significado e nem sequer existe no dicionário espírita. Milagre? Para os espíritas, o milagre seria uma postergação inconcebível das leis eternas fixadas por Deus – obras que são da sua vontade – e seria pouco digno da Suprema Potência exorbitar da sua própria natureza e variar em seus decretos. Então, haverá fatalidade nos acidentes e/ou acontecimentos outros da vida, conforme o sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer, os acidentes e/ou acontecimentos diversos são predeterminados? E o livre-arbítrio, como ficaria? A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. E mais ainda, “fatal”, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é, segundo o Espiritismo.
Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se o instante da morte ainda não chegou, não morreremos? Segundo os Espíritos, não desencarnaremos e sobre isso temos muitos de exemplos. De fato, em todas as épocas, muitas criaturas têm saído ilesas das mais extremas situações de perigo. Por outro lado, porém, haverá quem questione: - Mas com que fim passam certas pessoas por tais perigos que nenhuma conseqüência grave lhes causam? Na questão 855 do Livro dos Espíritos, o assunto é melhor explicado pelos Espíritos: “Se escapas desse perigo, quando ainda sob a impressão do risco que correste, cogitas, mais ou menos seriamente, de te melhorares, conforme seja mais ou menos forte sobre ti a influência dos Espíritos bons”.
O tema e o estudo sobre fatalidade têm múltiplas facetas. Devem ser considerados sob diversos ângulos. A fatalidade existe unicamente pela escolha que fazemos, ao encarnar, desta ou daquela forma para sofrer. Escolhendo-a, instituimos para nós uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que venhamos a nos achar colocados. Se estamos cumprindo, no uso de nosso livre-arbítrio, a programação reencarnatória, não há como, pois, sermos visitados pela fatalidade. Por isso, cremos que não há livre-arbítrio nem determinismo absolutos na encarnação, mas liberdade condicionada.
Destarte, a Doutrina dos Espíritos, embasada em O Livro dos Espíritos, não respalda a ideia de fatalidade, merecendo por isso leitura e reflexão. Então, qual a finalidade desses acidentes que causam tanto espanto? Como a Justiça Divina pode ser percebida nessas situações extremas? Por que algumas pessoas escapam, e outras não, de quedas, por exemplo, como vimos acima, lembrando que fatalidade, destino, azar e sorte são palavras sempre citadas em situações como essa?
A fatalidade física, o momento da morte, virá naturalmente, no tempo e maneira pré-estabelecida, a não ser que o precipitemos, pelo uso de nosso livre-arbítrio, através do suicídio, por exemplo. Instante é um momento, uma fração de tempo indefinido, mais ou menos dúctil, diferente de hora, minuto e segundo da morte. É evidente que Deus a tudo prevê, mas os acontecimentos não estão a isso condicionados; Deus previu as nossas ações, mas nós não agimos porque Deus previu, mas porque utilizamos o nosso livre-arbítrio desta ou daquela maneira, e Ele tinha ciência dessa nossa maneira de agir.
Ora, se usamos bebidas alcoólicas e dirigimos um veículo a 150 km/h, ou atravessamos uma avenida de intenso fluxo de automóveis, de olhos fechados, por exemplo, estamos nos expondo e nos sujeitando à “fatalidade”, mas, antes do nosso procedimento errôneo, utilizamos o nosso livre-arbítrio.
O que essas reflexões têm a ver com o caso do americano que caiu do 39º andar de um prédio em Manhattan, Nova York? Bem, pelo sim, pelo não, cremos que a espiritualidade superior não tem qualquer compromisso com a fatalidade, podendo alterar programações reencarnatórias de acordo com o merecimento do reencarnado. Para tal, sob o prisma espiritual, a fatalidade não é fatal, podendo ser modificada, já que é possível renovar nosso destino todos os dias,e nem duvidemos disso.

Jorge Hessen
http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com/

O Deus bom e o Deus bonzinho











Gerlon de Almeida


Nas agruras do sofrer
Nos tormentos da dor
Ficamos sem entender
Se Deus por nós tem amor.

Sofre-se a dor anatômica
Sofre-se a dor moral
Mas a causa da dor crônica
É o que nos resta do mal.

Rogamos a Deus por paz
Que nos livre do que é ruim
Mas é isso o que Ele faz
E não se percebe, enfim.

Ai de nós se o nosso Deus
Fosse aquele Deus bonzinho
Que nos batesse nos ombros
Dizendo: “Continue filhinho

Continue o caminho dantes
Continue na imperfeição
Leve a todos os semelhantes
O desespero, a aflição.

Continue com o orgulho
Eu amo a você e aos seus
Quanto àqueles outros filhos
São bastardos, não são meus.

Continue com o egoísmo
Pode ostentar mais e mais
Os deserdados do mundo
São herdeiros sim, de Satanás.

Continue com a vaidade
Você é o rei desse lugar
Quem elegeu a humildade
Morreu na cruz. Vai invejar?”

Pensamos ser equivocado
Esperar um Deus bonzinho
Se até o seu filho amado
Usou coroa de espinhos.

Não se pode admitir
Um deus que não seja justo
E se Ele não lhe preferir?
Quer pagar por esse custo?

Não quero um deus parcial
Dando a alguns a preferência
Se meu irmão não pode igual
Não quero ter deferência.

Quero um deus bom, não bonzinho
Que me dê oportunidade
De rever o meu mau caminho
E refazer com humildade.

Que me permita chorar
A dor sincera, verdadeira
Porque a dor foi sagrada
No Jardim das Oliveiras.

Que me permita a pobreza
Medida reparadora
Jesus, que já era humilde
Nasceu numa manjedoura.

Tão mais amargo que o nosso
O cálice do Senhor Jesus
Deus não afastou, como posso
Pedir que afaste minha cruz?

Não é o intento fazer
Apologia da dor
Mas se de Deus provier
Passemos com fé e amor.

Lágrimas hoje vertidas
São o selo que nos marca
Para acessar a outra vida
Sem precisarmos de maca.

Deus das alturas nos vê
Faz Seu recenseamento
Recompensa só vai ter
Quem conhecer sofrimento.

Cale já os teus apelos,
Deus não afasta problemas
Mas se quiser resolvê-los
Ele te ajuda. Não temas!

Receber facilidades
Na Terra? Seria um mito
Promessa de felicidade
Foi destinada aos aflitos.


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

AUTOESTIMA E AUTOSUPERAÇÃO ANTE A LEI DA REENCARNAÇÃO



Harley Lane, um menino inglês de 4 anos, teve uma meningite e foi desenganado pelos médicos. Sofreu uma septicemia, uma infecção que ocorre no sangue causada pela proliferação de bactérias e toxinas, conhecida também como sangue envenenado. Essa infecção danifica os tecidos do organismo e diminui a pressão arterial, provocando o fechamento de veias, interferindo na circulação sanguínea. Harley precisou amputar os braços e as pernas e pouco tempo depois, utilizando próteses e uma cadeira de rodas, voltou à escola e se tornou o garoto mais popular da classe, devido ao seu esforço de superação em um corpo físico completamente mutilado. Atualmente, é amparado por um assistente de ensino para ajudá-lo na higienização, prevenindo assim novas infecções.
Jessica Cox, uma americana nascida sem os braços, por conta de uma enfermidade congênita, vem ganhando popularidade nos Estados Unidos como exemplo de superação. Ela se tornou a primeira pessoa a conduzir uma aeronave somente com os pés e conseguiu um brevê de piloto. Cox não se entrega aos limites físicos e não se prende ao “não posso”, costuma dizer ante os desafios “ainda não consegui”. Sob esse raciocínio, acredita que quando na limitação física não se pode fazer algo, mas pode-se buscar meios de superação a fim de vencer, quebrar limites, expandir, ampliar horizontes, levando a barreira limite para mais distante do ponto anterior.
A maior conquista de Jessica é a auto-estima e elevado grau de auto-aceitação, o que dá a ela esses talentos. Em suas palestras, Jessica procura mostrar às outras pessoas que a auto-confiança é a principal arma para superar as adversidades. Há muitas pessoas ditas “normais” que sofrem de uma deficiência real – a falta de confiança em si mesmas, eis aí os verdadeiros aleijões humanos. Outro caso de superação é de Flávia Cristiane Fuga e Silva, uma brasileira de 26 anos, portadora de paralisia cerebral, que recebeu sua carteira de advogada, após cinco anos de faculdade e três exames da OAB-SP. Flávia praticamente não fala e se locomove com o auxílio de uma cadeira de rodas. Foi aprovada no exame 133, realizado em agosto de 2007, em que 84,1% dos 17.871 candidatos foram reprovados.
Muitos paralíticos, surdos, mudos e cegos, sob essa égide valorativa de "eficiência", são considerados "deficientes", isto é, aqueles cuja "eficiência" é falha, é insuficiente, e não tem como ser vencida, superada. Entendendo que o limitado físico não sofre de falta de "eficiência", por essa razão postulamos que os “deficientes” não são deficientes, apenas estão temporariamente restritos para fazerem uma ou outra coisa.
Os preceitos espíritas nos remetem a entender que somos sempre herdeiros de nós mesmos, motivo pelo qual é importante que nos esforcemos, a fim de crescermos emocionalmente, amadurecendo conceitos e reflexões, aspirações e programas reencarnatórios, cuja materialização nos submetemos. É importante reconhecermos as próprias dificuldades e esforçar-nos para vencê-las, evitando a queixa a fim de não deprimir o entusiasmo de viver, levando-nos a estados depressivos. Não devemos nos deter na autocompaixão piegas e inútil, precisamos nos motivarmos para crescer e alcançarmos os patamares psicológicos mais elevados de autosuperação.
É bem verdade que há dolorosas reencarnações que significam tremenda luta expiatória para as almas necrosadas no vício. As vicissitudes da vida corpórea constituem expiação das faltas do passado e, simultaneamente, provas com relação ao futuro a fim de depurar-nos e elevar-nos, se as suportamos resignados e sem autopiedades. A paralisia, o câncer, a epilepsia, a cegueira, a mudez, a idiotia, a surdez, a hanseníase, o diabete, o pênfigo foliáceo, a loucura e todo o conjunto das patologias de etiologias obscuras e quase incuráveis significam sanções instituídas pelo Criador da vida, portas a dentro da Justiça Universal, atendendo-nos aos próprios pedidos, para que não venhamos a perder as glórias eternas do espírito a troco de lamentáveis ilusões humanas.
Diante dos desafios do viver na Terra, devemos trilhar pelo caminho da autosuperação sob os influxos tenazes da autoconfiança. Esse estado de espírito resulta das conquistas contínuas que demonstram o valor de que se é portador, produzindo imensa alegria íntima, e esta se transforma em saúde emocional, com a subseqüente superação dos conflitos remanescentes das experiências de vidas pregressas.

Jorge Hessen
http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

LÚCIDO COMENTÁRIO SOBRE AS CÉLULAS TRONCO EMBRIONÁRIAS



Sérgio de Jesus Rossi



Caro Jorge,

Li, embevecido, mais uma aula de cultura e, principalmente, de bom senso.

Kardec, com seu raciocínio claro e racional, dizia que o Espiritismo não vinha para contradizer a ciência, mas para caminhar junto, explicá-la; se algum dia esta o desmentisse, haveria que se corrigir a nossa doutrina.

Na verdade, sabemos que isso dificilmente acontecerá, porque os espíritos sempre estiveram bem à frente de nosso conhecimento terreno, que adquirimos à custa de muito estudo e sacrifício.

Lembro-me da época em que se começou a falar de clones, e quanta asneira – não acho palavra mais suave – se falou a respeito como se essa conquista da ciência fosse uma ameaça às religiões; no meio religioso, também se produziu muito palavrório inútil.

Um amigo, de uma denominação evangélica absolutamente respeitável, perguntou-me como o Espiritismo explicaria um novo corpo, cópia do anterior, especulando se haveria também “cópia” do espírito.

A provocação, mal dissimulada, era evidente, como se isso jogasse por terra toda estrutura da vida espiritual, que é a verdadeira.

Percebi que ele realmente não entendera o pouco, talvez nada, que tivesse lido sobre a nossa doutrina; tive de explicar que o espírito não é parte do corpo, mas apenas ocupa um durante a etapa terrena. Disse também que a espiritualidade estava preparada, há muito tempo, para os futuros avanços da ciência humana: se um dia houver clones humanos, espíritos serão designados para emprestar-lhes a centelha divina.

Ainda brinquei com ele perguntando o que ele achava de si mesmo, que ele era apenas aquele corpo, e que estava dentro do cérebro, “atrás” dos olhos; foi uma ironia deliberada para que ele aceitasse que somos muito mais, que somente achamos que estamos na altura dos olhos porque esse sentido é dominante no corpo humano.

Por falta de oportunidade, a conversa não prosperou.

Voltando ao nosso tema, entendo que vale o mesmo para os embriões congelados: no momento em que nossos protetores percebem que não haverá a nidificação, o espírito retorna e aguarda nova oportunidade; é o que acontece nos abortos e nos acidentes que vitimam a mãe durante a gravidez.

Quando o embrião congelado é ativado, após anos de espera, ele se converte em nova oportunidade para a imensa “fila” de espíritos necessitados de reerguimento moral pela dureza da lida terrestre.

Então, meu irmão e amigo, muito grato por seu texto tão esclarecedor e completo.

Grande abraço fraterno,

Sérgio

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

PESQUISAS COM AS CÉLULAS TRONCO EMBRIÔNICAS, MITOS , CRENDICES E FOBIAS

PESQUISAS COM AS CÉLULAS TRONCO EMBRIÔNICAS, MITOS , CRENDICES E FOBIAS




Cientistas americanos conseguiram que uma mulher de 42 anos tivesse um filho saudável a partir de um embrião que permaneceu congelado por quase 20 anos. A técnica foi aplicada no Instituto Jones de Medicina Reprodutiva, da Escola de Medicina de Eastern Virginia, em Norfolk, na Virgínia. Os médicos descongelaram cinco embriões que haviam sido doados anonimamente por um casal que realizara o tratamento de fertilização na clínica 20 anos antes. No Brasil, há o caso de uma mulher do interior de São Paulo que deu à luz um bebê nascido de um embrião que ficara congelado por oito anos.
O tema nos impõe uma reflexão sobre “pesquisas com células embriônicas”, pois a utilização dessas células é complexa e muitas outros questionamentos podem ser feitos. Sobre esses estudos os esclarecimento dos Benfeitores Espirituais praticamente inexistem. Todavia, reconhecemos que o projeto demonstra o esforço da ciência humana. Lembrando que “as pesquisas com células-tronco embrionárias só poderão ser realizadas, segundo a Lei, se elas forem obtidas através de fertilização in vitro e estiverem congeladas há mais de três anos"(1)
O assunto deve e pode ser debatido de forma imparcial, e livre do ranço obscurantista dos idos medievais, levando-nos a conclusões futuras mais satisfatórias. Creio que "defender as pesquisas com células-tronco embrionárias para fins terapêuticos mais do que um posicionamento técnico-científico é a defesa dos Direitos Humanos, da Dignidade da Pessoa Humana"(2) Não adianta posicionamento radical, até porque, a proposta científica é a da utilização irreversível, em pesquisa, dos embriões excedentes nas clínicas de reprodução assistida.
Será que os embriões congelados, nos quais se encontram as células-tronco embrionárias, têm potencial de vitalidade que não se pode transformar? Alguns crêem ser um "aborto", mas não percorremos nessa direção. Recordemos "o Livro dos Espíritos", cuja resposta esclarece o que segue: "há corpos que jamais tiveram um Espírito designado", ou seja, há “corpos físicos que se desenvolvem sem que haja a finalidade da reencarnação.”(3) Se há um planejamento reencarnatório com o concurso de Espíritos superiores, por que eles iriam designar um Espírito, com provas a cumprir, a um conjunto de células que seria, apenas, matéria orgânica e que não teria, em sua finalidade, a evolução da gestação?
Utilizar células-tronco embrionárias, nesse sentido, não será uma afronta às Leis naturais, mas uma enorme contribuição científica para a Humanidade, possibilitando melhorar a vida física dos seres reencarnados.
Quanto à neurastenia sobre o uso impróprio das células-embriônicas, mantenhamos a confiança , pois a Ciência, colaboradora inconteste do progresso, saberá lidar cada vez melhor com as técnicas que envolvem o tema. O temário, em que pese o nosso convencimento, demonstrado em vários artigos que publicamos, é por demasiado complexo e, óbvio, não detemos o argumento final! É preciso considerar que minha opinião sobre o assunto não é necessariamente uma posição da Doutrina Espírita, é uma opinião particular. Todavia, seja qual for a opinião que qualquer outro espírita contrárias aos arrazoados aqui expressos, obviamente que não se trata de uma posição do Espiritismo, e sim ainda será uma opinião pessoal que será mais tarde melhor esclarecida pelos resultados das práticas científicas.
Os Mentores espirituais são inteligentes o suficiente para saberem que tal ou qual óvulo será ou não destinado à produção de células-tronco para fins terapêuticos e, portanto, que nenhum espírito deverá estar ligado a ele. Acreditamos nisso, ou, então, estaremos sob o guante da “lei da casualidade” e o “acaso” não consta no dicionário espírita.
A literatura complementar à Doutrina revela que o fenômeno da reencarnação humana é por demais complexo, sendo confiado, normalmente, aos Espíritos elevados. André Luiz nos explica que as Leis Divinas são Universais. Como tal, é natural que a reencarnação obedeça também a princípios automáticos, tendo em vista, sobretudo, que esse processo se repete há bilhões de anos. Em "Nas Fronteiras da Loucura", Manoel F. Miranda, afirma que líderes das sombras (especialistas em magnetismo) conhecem as técnicas reencarnatórias e até as executam na Terra.”(4)
A fecundação é um processo de criação e esta, necessariamente, se submete ao princípio do "nada se cria sem que à criação presida um desígnio."(5) Considerando que nos embriões congelados, pode haver Espíritos ligados ou não , a priori não vemos sentido em se "grudar" um espírito a um embrião que jamais se desenvolverá, a não ser se for por ajuste cármico, como sucede hoje com o aborto não provocado.(6)
É bem verdade que não possuímos instrumentos precisos para saber se há ou não DESENCARNADOS destinados a tal ou qual embrião congelado, mas, também estamos convencidos de que, entre tentar fazer algo em nome da ciência, visando à saúde dos ENCARNADOS, ou deixar de fazê-lo, por receios ou neurastenias incontidas dos impactos de consciência que vigem nos imaginários de alguns, por cristalizado atavismo religioso, é inaceitável e extemporâneo entrave à evolução científica.
Não nos esqueçamos de que o homem de ciência está na Terra como colaborador de Deus, para ajudá-Lo a melhorar a natureza. Excetuando-se os embriões que, efetivamente, não serão aproveitados para a gestação, e que se perderão após três anos de congelamento, há também outras alternativas, na busca de terapias das doenças degenerativas, de curso irreversível.
A ciência deve avançar sem os cabrestos da ortodoxia igrejeira, até porque, de seu impulso, também depende o desenvolvimento da criatura, mas, obviamente, os caminhos utilizados não podem violar o que, igualmente, já se conquistou como valores imarcescíveis.
Do exposto, não temamos os avanços científicos, até porque, o Espiritismo está profundamente vinculado à pesquisa, à investigação, à ciência, através do seu trabalho intérmino no processo da evolução. Se o homem vai ou não utilizar o produto das pesquisas científicas para o bem ou para o mal, não esbugalhemos os olhos, não mergulhemos em sofreguidões inúteis, fiquemos harmonizados n’alma até porque quando testamos a bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, sofremos o terror da fissão nuclear. No entanto, aí estão os átomos para a paz mundial.

Jorge Hessen

Fontes
(1) Revista Veja editada em 03 de Março de 2005
(2) Barone, Alexandre, "A proximidade de uma esperança adiada", artigo disponível emacesso em 11/03/2008- Barone é presidente do Conade - Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência
(3) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro:Ed FEB, 2001, perg. 356
(4) Franco, Divaldo Pereira. Nas Fronteiras da Loucura, Salvador: ed. Leal, 2000
(5) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro:Ed FEB, 2001, perg. 336
(6) Hessen, Jorge, CIENTISTAS ESTARIAM SUBVERTENDO A ORDEM DIVINA AO MANIPULAR CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS? - Artigo publicado em 06.04.05, disponível no site Acesso em 10-03-08

terça-feira, 12 de outubro de 2010

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JORGE HESSEN / ARTIGOS ESPÍRITAS: ANTE A VIOLENCIA DOMÉSTICA É URGENTE A ORAÇÃO NO L...: "A rigor, as relações familiais deveriam ser, acima de tudo, de ordem ética. Mas, observa-se nelas uma deterioração emocional profunda e uma..."

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JORGE HESSEN / ARTIGOS ESPÍRITAS: LEI DE AÇÃO E REAÇÃO E LIVRE-ARBÍTRIO, PODE O HOME...: "Por que determinadas pessoas escapam da morte em acidentes aéreos, naufrágios, incêndios e outras situações trágicas? Alguns explicam, supe..."

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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

FALEMOS DE APOMETRIA

FALEMOS DE APOMETRIA


Suely Caldas Schubert
Desejo falar sobre a apometria, esclarecendo que estamos no campo das idéias e jamais diminuindo aqueles que a estão adotando. Cada um é livre para fazer suas opções.
A apometria é mais uma prática surgida em nosso meio espírita que veio confundir e desviar os iniciantes, os que buscam novidades e, diria até, os invigilantes que se deixam envolver por tais idéias, que nada têm em comum com o Espiritismo..
Recomendo o artigo do nosso companheiro Jorge Hessen àqueles que desejem conhecer algumas das práticas antidoutrinárias adotadas pela apometria.
É oportuno recordarmos a importante advertência de Allan Kardec, conforme O Evangelho segundo o Espiritismo, na Introdução II , que a segurança do Espiritismo, com vistas ao futuro, deveria estar fundamentada no critério do controle universal do ensino dos Espíritos e a concordância que deve existir entre eles.
Também adverte que qualquer idéia nova que surja deve ser submetida ao crivo da razão, acrescentando, que se houver dúvida que se busque a opinião da maioria.
As práticas da apometria não têm base doutrinária em O Livro dos Médiuns, e nem nas obras consideradas fiéis à Codificação pelo critério da maioria absoluta dos espíritas, quais sejam as de André Luiz, Manoel Philomeno de Miranda, Eammanuel, Joanna de Ângelis, Camilo, e toda a obra mediúnica de Yvonne A. Pereira, isto só para falar nos autores espirituais.
A apometria, portanto, não é Espiritismo.


Clique aqui para acessar o artigo do
Jorge Hessen sobre esse tema.
Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
Citadas no texto.


Read more: http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com/2009/06/falemos-de-apometria.html#ixzz123hpdgp9

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A JUSTIÇA DE DEUS ANTE OS MECANISMOS DA REENCARNAÇÃO




Liam Derbyshire, um menino britânico de 11 anos, tem uma história de doenças instigantes. Superou um câncer na infância e tem um sistema gástrico subdesenvolvido, precisa usar permanentemente um tubo de traqueostomia. Desde que nasceu, sofre de hipoventilação central congênita,(1) conhecida popularmente como maldição de Ondina, que pode levar à morte durante o sono, pois a sua respiração pára enquanto dorme. O menino é obrigado a usar um respirador artificial sempre que dorme e, ainda, possui um aparelho para auxiliar na respiração movido a pilha, em caso de dormir no carro ou no avião.
Na concepção de Kim, sua mãe, a cada dia de sua vida é um acréscimo de misericórdia de Deus. Os médicos se espantam com a sua condição física ,que tem desafiado todos os prognósticos. O Dr. Gary Connett, que cuida de Liam no Hospital Geral da cidade de Southampton (sul do país), afirmou nunca ter encontrado relato de crianças que tiveram tantas patologias juntas e sobreviveram.
Narramos o “caso Derbyshire” para alguns amigos materialistas (ateus) e todos reagiram com frases do tipo:
“Se Deus realmente existe, Ele odeia Derbyshire e quer que ele sofra.”
“Se Deus tudo pode, tudo vê, por que não faz nada pra ajudar Liam?”
“Deus gosta de ver o sofrimento de algumas pessoas.” “Só os ignorantes acreditam na justiça de Deus.”
“O "Deus" dos espíritas não é onipresente, onisciente e onipotente? Então por que permitiu que esse menino nascesse com uma doença que causaria tanto sofrimento na vida dele e da família?”
Teve até o que nos desafiou dizendo:
“Não venha com esse blá, blá, blá de “reencarnação”!
Outro vociferou quase em uivos:
“Por que alguns merecem sofrer e outros não? Quais os critérios que Deus usa para escolher quem deve sofrer menos? E ainda preciso engolir que tenho que agradecer minha vida a um Deus imaginário tão sórdido e cruel?”
Pedimos auxílio aos nossos Amigos de “lá” nesse instante e nos esforçamos para esclarecer serenamente ao grupo sobre a lógica da Lei de Causa e Efeito. Afirmamos que a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória, ou seja "cada um é punido naquilo em que errou."(2) Os espíritas sabem que "o estado feliz ou desgraçado de um Espírito é inerente ao seu grau de pureza ou impureza. A completa felicidade prende-se à perfeição. Toda imperfeição é causa de sofrimento e toda virtude é fonte de prazer."(3)
Perante a Lei de Causa e Efeito não existem "vítimas". Disse-lhes!... Só respondemos pelos nossos atos e jamais pelos atos alheios. A ninguém deve o homem culpar em caso de sofrimento, a não ser a ele mesmo, pela sua incúria, seus excessos ou a sua ambição. "A responsabilidade das faltas é toda pessoal, ninguém sofre por erros alheios, salvo se a eles deu origem , quer provocando-os pelo exemplo , quer não os impedindo quando poderia fazê-los."(4)
Na reencarnação, o resgate é possível na proporção da dívida contraída. "Pela natureza dos sofrimentos e vicissitudes da vida corpórea pode julgar-se a natureza das faltas cometidas em anteriores existências."(5) Cada caso é um caso e as almas mais primárias e atrasadas serão, via de regra, mais atingidas pelos sofrimentos materiais, enquanto os Espíritos de maior sensibilidade e cultura serão mais vulneráveis aos sofrimentos morais.
Dessa maneira e detalhando mais sem digressões ante os códigos de Talião, infere-se o seguinte: os que cometeram aborto renascerão com problemas de esterilidade e doenças genitais; os desregrados sexuais reencarnarão com impotência sexual ou frigidez e decepções na vida afetiva; os ociosos e indolentes amargarão na próxima vida física o desemprego, a má remuneração profissional, a “invalidez” física; os caluniadores e maledicentes (re)nascerão carregando doenças das cordas vocais; os que usaram a inteligência para o mal terão novo corpo com uma hidrocefalia, com oligofrenias; os suicidas carregarão noutra existência doenças congênitas graves e desafiadoras para a ciência médica, poderão sofrer acidentes mortais na infância e adolescência. E, assim por diante!
O caso do menino Derbyshire, invariavelmente, também nos induz à reflexão sobre a função do perispírito (corpo espiritual, segundo Paulo de Tarso), a Lei da Causa e Efeito, a reencarnação, o suicídio, entre outros temas sugestivos que a Doutrina Espírita explora e explica tão preciosamente.
O nosso “blá blá blá” precisou avançar mais. Afirmamos que a partir da fecundação do óvulo, sob o comando da lei natural, o espírito reencarnante imprime, através da ação do perispírito, a integração da sua própria herança espiritual somado ao legado genético dos genitores. A formação do respectivo DNA individualizado – composto de genes dominantes e recessivos - conduzido pelas sagradas Leis da Hereditariedade, provindas do Criador, configurará o novo corpo físico daquele particular espírito imortal, que renascerá conforme o programa, previamente, estabelecido e subordinado, inicialmente a fatores como família, raça, etnia, nacionalidade, predisposições para determinados estados de saúde ou doença - física ou espiritual - e inúmeras outras especificidades individuais.
O compromisso ou "conta do destino criada por nós mesmos" está impresso no corpo perispiritual. Esses registros fluem para o corpo físico e culminam por determinar o equilíbrio ou o desequilíbrio dos campos vitais. "Só o reconhecimento - que um dia chegará -da primazia do espírito sobre a matéria, associada essa primazia ao princípio reencarnacionista, isto é, a integração da herança espiritual à hereditariedade genética, comandada pelo espírito, via perispírito, regida pela Lei de Causa e Efeito, é que permitirá que se identifiquem, no espírito imortal, as causas concretas dos desequilíbrios que eclodem no corpo físico (um mata-borrão e fio-terra que ele representa), sob o nome de doenças, incluindo-se os distúrbios da psique humana."(6)
Quando forem descobertas tecnologias muito mais sofisticadas, que nos possibilitem um exame aprofundado da estrutura funcional do perispírito, a medicina transformar-se-á radicalmente. Nos hospitais, possuindo instrumentos de altíssima resolução, muito além daqueles que existem hoje, os diagnósticos serão, inequivocamente, precisos, o que possibilitará maiores sucessos sobre as doenças. Os profissionais da saúde trabalharão muito mais de forma preventiva, priorizando curar a causa (o doente) e não remediar o efeito (a doença).
Após nossa exposição , os materialistas ficaram mudos e permaneceram calados até o término da explicação espírita que lhes ofertamos fraternalmente.

Jorge Hessen
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Referências e Fontes:

(1) A Síndrome de Ondine (Hipoventilação alveolar primária) é uma doença na qual a principal causa é uma mutação ou várias do gene PHOX2B, de herança autossômica dominante. Nessa doença os mecanismos da respiração involuntária não funcionam adequadamente. Ao dormir, os receptores químicos que recebem sinais (baixa de oxigênio ou aumento de dióxido de carbono no sangue) não chegam a transmitir os sinais nervosos necessários para que se dê a respiração.
(2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000, questão 973
(3) Kardec, Allan. O Céu e o Inferno, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, cap VII
(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000, questão 645
(5) Pereira , Yvonne. Dramas da Obsessão, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1964
(6) Artigo de Raphael Rios, intitulado Lei de Causa e Efeito determina os Efeitos da Hereditariedade usando os Registros do Perispírito, publicado na Revista Internacional de Espiritismo – dez/2000


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